Tecnologias em Movimento: ações colaborativas na Educação de Irecê
JORNADA PEDAGÓGICA 2019
(AUTO) FORMAÇÃO: COMUNIDADES EM APRENDIZAGEM
Mesa Redonda
“Tecnologias em Movimento: ações colaborativas na Educação de Irecê”
No dia 18/02/2019, durante a Jornada Pedagógica, foi realizada uma Mesa Redonda com o tema “Tecnologias em Movimento: ações colaborativas na Educação de Irecê”. Este evento, realizado pela Prefeitura Municipal de Irecê, Secretaria Municipal de Educação e Ponto de Cultura Ciberparque Anísio Teixeira abriu a discussão para uma nova cultura educacional em que professor e aluno protagonizam juntos a construção do conhecimento, a partir do uso das tecnologias na educação. O uso das tecnologias deve ser compreendido como um fenômeno a ser estudado em busca de possibilidades em que professores e alunos, de forma colaborativa, possam protagonizar a produção de um conhecimento contextualizado com o cotidiano da comunidade em que a escola está inserida.
Nesse sentido, o evento buscou promover os trabalhos de Mestrado Profissional do convênio Irecê/UFBA, além de estimular a parceria Secretaria Municipal de Educação com a UNEB e o IFBA, trazendo para o evento a contribuição destas duas Instituições em relação ao que se é produzido nas TIC na Educação.
Com a mesa formada pelos professores mestres Ancelmo Machado Miranda Bastos, Bruno Fernandes Carvalho da Silva, Joécio Carlos da Silva, Jefferson Maciel Teixeira, Nelson Rodrigues da Cruz Junior (mediador) e pela professora doutora Ana Karine Loula Torres Rocha foram apresentadas as possibilidades de contribuição das pesquisas para a Educação do Município, inclusive com ações que já acontecem nesta Rede.
Iniciando o debate, o professor Nelson Rodrigues apontou para a presença de um “espírito Maker/Fazedor” na Rede Municipal de Educação, onde desde a implantação do Programa de Formação de Professores Irecê/UFBA que, com um currículo próprio adaptado à realidade dos professores, passando pela elaboração e implantação da Proposta Curricular por Ciclo de Formação Humana até a criação de Escolas Municipais de Educação Integral e Integrada, vemos o poder criativo em prol do desenvolvimento da educação. Considerando ainda a versatilidade da atual Proposta Curricular dos Ciclos de Formação Humana e que tem como um dos elementos estruturantes e fundantes o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação, ressaltou a importância da criação do Núcleo de Tecnologia da Educação dentro da estrutura organizacional Secretaria de Educação, a formação do Grupo Trabalho, Educação e Tecnologia composto por professores da Rede e que atuam com o uso das tecnologias, além da futura implantação do Espaço Futuro (convênio com a SECTI/BA) e do Programa Educação Conectada, quando todos estes elementos vêm coadunar com o uso das tecnologias junto aos processos formativos da Rede.
A professora Ana Karine, em sua apresentação, descreveu sobre “Os desafios do educador no mundo da tecnologia”, levando em consideração uma discussão sobre alguns conceitos acerca da tecnologia como: nativos digitais, imigrantes digitais, Web 2.0, TIC e outros temas, partindo de uma indagação de quem são os estudantes e os professores neste contexto em que as tecnologias, principalmente as digitais, determinam a forma como as pessoas se relacionam e como elas tratam a informação e o conhecimento.
Com o tema “Formação de Professores e Novas Tecnologias de Comunicação e Informação”, o Professor Ancelmo Machado trouxe uma discussão sobre a necessidades dos educadores reverem suas posturas em prol da incorporação, dentro dos limites possíveis, das TIC em suas práticas pedagógicas trazendo o estudante como protagonista e colaborador para a formação do próprio conhecimento no processo de ensino e de aprendizagem e, para isso, trouxe as Competências 4 e 5 da BNCC, postas como necessidades de revisão do atual sistema educacional, no sentido de perceber que as tecnologias digitas já estão presentes na vida cotidiana dos estudantes e se faz necessário que estas tecnologias entejam fortemente atuantes no contexto educacional de cada um.
O professor Bruno Fernandes trouxe objetos construídos com madeira e em sala de aula para ilustrar a discussão que abrange trabalho colaborativo, marcado fortemente pela relação teoria/prática, onde conceitos fundamentais das Ciências Naturais, Matemática e suas Tecnologias ganharam forma através do uso de tecnologias “não-digitais” como: furadeira, serra tico-tico, lixadeira, estilete, esquadro. Em sua demonstração, o professor ressaltou como este trabalho aguça a percepção do aluno, ampliando a capacidade de aprendizagem onde os conceitos estão bem próximos do seu dia a dia, dando um maior significado aos conhecimentos adquiridos.
Partindo de sua prática em sala de aula, o professor Joécio Carlos trouxe três experiências exitosas com o uso das Tecnologias no Colégio Odete em suas aulas de Língua Portuguesa. Ao abordar o tema “Empoderamento dos Alunos”, o professor trouxe conceitos de autonomia, autoria, protagonismo, colaboração e compartilhamento, indicando um novo caminho para a educação a partir da introdução das TIC no cotidiano do processo de ensino e de aprendizagem. Seguindo nesta linha, o professor apresentou o “Livro Clip”, “Fanfic” e “Sala de aula invertida”, todas estas experiências frutos de leituras e estudos que fizeram parte do seu processo de autoformação.
Ressaltando a valorização das experiências já desenvolvidas na Rede de Educação de Irecê, o professor Jefferson Maciel trouxe uma discussão acerca das práticas pedagógicas, tendo como elemento estruturante o uso das TIC na educação indo para além da mera transmissão e/ou reprodução de informação, ou seja, promovendo a construção do conhecimento de forma colaborativa e autoral. Um dos pontos fortes do trabalho com as TIC é o protagonismo e participação dos estudantes no processo de ensino e de aprendizagem. Ainda destacou a importância do trabalho em rede e valorização da integração entre os integrantes da mesma. As Tecnologias da Comunicação e Informação podem e devem contribuir com toda essa construção.
O evento foi finalizado com a participação do público que, ao questionarem e contribuírem com o assunto, deixou claro a importância e grandiosidade desta discussão para o avanço do uso das tecnologias no Município de Irecê, além de reconhecer a contribuição dos trabalhos do Mestrado Profissional em Educação do Convênio Irecê/UFBA.
Nelson Rodrigues da Cruz Junior
Coordenador Núcleo de Tecnologia da Educação
Secretaria Municipal de Educação
Irecê/BA
Descentralização, o lado bom da colaboração
Venho tentando entender porque muita coisa boa que chega até a escola não segue um processo de continuidade ou evolui com o tempo e com as práticas educativas. Ao ler o texto sobre movimentos colaborativos, consigo vislumbrar que a perda de ritmo na práxis educativa se dá por falta de colaboração.
Somos meros consumidores de tecnologias alienados ao que o mescado dita difundido pela propaganda através da demonstração de estilos de vida apresentados em novelas, filmes, clips musicais e etc. Somos o que consumimos? (em alusão a “Você é o que compartilha” de Charles Leadbeater)
As novas tecnologias que estão no mercado através de smartfones, tablets, notbooks, smartvs entre outras, também estão na escola nas mãos de professores e alunos ou mesmo por meio dos vários programas educacionais que chegam à escola.
Em princípio o uso dessas tecnologias se dá de forma individualizada, onde o indivíduo se apropria do equipamento e se enclausura no seu uso principalmente no que diz respeito ao uso de softwares de redes sociais como WhatsApp e Facebook transmitindo e reproduzindo informações sem nenhum critério de julgamento sobre sua veracidade. Em princípio isso seria um fato geral caso não fosse outras tantas pessoas que conseguem subverter a ideologia consumista difundida pelo mercado capitalista usando essas tecnologias de forma colaborativa, responsável buscando a difusão do conhecimento.
Nas escolas podemos perceber também essa dualidade onde alguns se apropriam do uso das TIC apenas para reprodução de informação enquanto outros se apoderam transformando o uso das TIC em produção de conhecimento com a participação de vários sujeitos: professores, alunos, pessoal técnico e gestores. Os que se apropriam (ou expropriam), “tomam de conta” para benefício próprio e retendo a informação ou conhecimento sobre o uso dos recurso tecnológicos, tornam-se o ponto negativo de algo que chamo de personificação, pois torna-se a condição sine qua non para que outros acessem e usufruam das TIC. Mas a personificação também tem um ponto positivo, onde o indivíduo se apodera do que está posto descobrindo as possibilidade de uso e contribuindo para o conhecimento coletivo de uma comunidade.
A ideia difundida pela prática colaborativa da Comunidade Software Livre é um bom exemplo de continuidade de projetos e processos e com descentralização, ressaltando que descentralizar, neste sentido, não é deixar à vontade. Para isso é necessário fomentar a cultura da difusão do conhecimento, fugindo, de certa forma, da prática conteudista ou super valorização de conteúdos disciplinares que acabam por abafar posturas que tratam o conhecimento de forma mais ampla, multidisciplinar, multirreferencializada e que inclui a participação, principalmente, em um mesmo nível de horizontalidade, professores e alunos.
BONILLA, Maria Helena; PRETTO, Nelson De Luca (Org). Movimentos colaborativos, tecnologias digitais e educação. Em aberto, Brasília, v. 28, n. 94, p. 23-40, jul./dez. 2015