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Educação e tecnologia

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A educação e seus dilemas, vivemos presos em uma escola em que o espaço e o tempo são delimitados um em relação ao outro, ou seja, uma sala e uma medida de tempo, a hora/aula.

Isso nos leva a crer que todo o processo de aprendizagem está vinculado, principalmente, ao que acontece dentro dessa relação de espaço/tempo. Vivemos ainda, na educação de uma forma geral, uma “modernidade pesada” como descreve Zygmunt Bauman em Modernidade Líquida, em que há a necessidade de se materializar, substancializar tornar sólido a aprendizagem através da regra de que para existir conhecimento é necessário conteúdo excessivo em uma determinada rotina dentro de uma relação espaço/tempo.

A presença do livro didático na educação é um exemplo do que nos dá segurança como professores, pois os livros vêm fundamentados com conteúdos distintos de acordo com cada área de conhecimento, com os seus assuntos escalados em uma determinada sequência e que sentimos a obrigação de distribuí-las em um ano letivo durante uma carga horária mínima e obrigatória dentro de um espaço determinado com alunos distribuídos por idade. Esse é ainda o peso de uma modernidade em que a escola vive como se estivesse presa em uma redoma vendo do lado de fora o tempo passar e as coisas mudarem, mas não adere para manter-se “segura”.

A redoma nos deixa seguros mas limitados. O mundo lá fora tem muito a nos oferecer, a liberdade é condição sine qua non para o desenvolvimento do conhecimento. Não adianta só sair da redoma, ela tem ser quebrada. Isso não quer dizer que tenhamos que abandonar totalmente um modelo para viver outro. Precisamos entender que, com o desenvolvimento das Tecnologias da Informação e Comunicação o tempo e o espaço passam a ser coisas distintas assim como Bauman expõe ao discorrer sobre a modernidade leve, vendo uma sociedade desprendida da rotina, rotina esta que nos remete a um tempo em que a vida era determinada pelo ritmo das linhas de produção das fábricas.

A escola que quebra a redoma se arrisca em busca da liberdade pelo conhecimento, ela entra nesse mundo moderno leve. Nós estamos presos ainda a uma ideia de que os conteúdos determinados pelos documentos oficiais e que dão as diretrizes da educação brasileira, tem que ser ensinados em espaços e tempos específicos e com uma determinada rotina. Não necessariamente precisamos nos jogar de corpo e alma no que incerto, mas ter a certeza de que é necessário adequar-se às mudanças que vem a reboque com essa modernidade leve, principalmente entendendo que a relação espaço/tempo tem que ser vista separadamente, pois os espaços e os tempos de aprendizagem podem ser diversos diante da multireferencialidade promovida pelo mundo contemporâneo.

Bauman ao tratar da instantaneidade do ponto de vista da adaptação do capitalismo ao mundo contemporâneo da modernidade leve, fala de uma desvalorização do espaço em relação à exploração do trabalho:

 

A “instantaneidade” aparentemente se refere a um movimento muito rápido e a um tempo muito curto, mas de fato denota a ausência do tempo como fator do evento e, por isso mesmo, como elemento no cálculo do valor. O tempo não é mais o “desvio na busca”, e assim não mais confere valor ao espaço. A quase instantaneidade do tempo do software anuncia a desvalorização do espaço. (2001, p.149)

 

Apesar de entender que instantaneidade nesse novo mundo mobile, ou seja, fundamentalmente movido entre as teias das Tecnologias das Informação e Comunicação, a educação precisa se contrapor a ideia de não lugar e de que o espaço perde o seu valor. Vejamos, ainda dentro da redoma percebemos que a aprendizagem teria um lugar demarcado, a sala de aula, mas ao imaginar uma escola fora da redoma, em uma sala de aula usando o livro didático e podendo acessar à internet, o aluno poderá reforçar ou contestar as informações contidas no livro e ajudando-lhe a compreender melhor o assunto. Imagine ainda esse aluno no momento de intervalo, ou em um outro espaço que não a sala de aula, mas intrigado diante de um problema ou de um dilema, sozinho ou acompanhado de outros colegas e aí resolve acessar informações na internet para resolver a questão, eu diria que este aluno estaria em outro espaço de aprendizagem e de forma autônoma formando o seu conhecimento através de um conteúdo previsto, mas não estando preso a uma ordem, a um tempo e a um espaço.

O fato de o tempo não está mais vinculado ao espaço, não quer dizer, na educação que o espaço em si perca o seu valor diante da instantaneidade, mas cada espaço continua tendo algum valor, pois é nele que acontece as relações, as interações, os conflitos todo tipo de troca simbólica ou não e que vão contribuir para a formação de um indivíduo capaz de compreender e lhe dar com os desafios do mundo na modernidade leve.

 

 

REFERÊNCIA

 

BAUMAN,  Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

 

 
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