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Janara Luiza Paiva Botelho Oliveira

Estudante

O modelo dos modelos

1 Um comentário Ninguém está seguindo este artigo ainda. 26 visualizações

O modelo dos modelos

 

Nosso blog dessa semana tem como objetivo lhe convidar a conhecer mais sobre Tecnologia Assistiva. Num passeio muito breve, vamos nos deparando com conceitos e com exemplos do que é essa TA. Antes disso, só para pensar: você precisa de algum recurso específico para executar suas ações diárias ou para participar efetivamente da vida social? Já pensou que em algum momento poderemos precisar? Olha só um exemplo: não nasci usando óculos, agora dependo deles para quase tudo. Em minha família existem pessoas que precisaram de cadeiras de roda ou de cama adaptada para executar alguma ação da vida comum aos seres humanos, tem também criança que precisa de um cuidador na escola para lhe acompanhar de forma mais personalizada... esses modelos criados se traduzem em recursos e serviços da Tecnologia Assistiva. Será que o mesmo modelo de recurso está adequado para todas as pessoas? Perguntando de uma outra forma: diante da mesma deficiência, o mesmo modelo de recurso ou serviço serve para todo os sujeitos?

Vamos seguir movimentando nossa experiência em torno dos avanços e das necessidades que as instituições, inclusive e principalmente a escola, vem se deparando para garantir o acesso como um direito e como justiça social.

A trilha de hoje passa por dois caminhos: 1. Já que estamos falando sobre recursos e serviços da TA como modelos de promoção à participação social, pensemos no que é um modelo. Cai bem o texto de Italo Calvino, um dos mais importantes escritores italianos do século XX, sua escrita séria convoca um leitor muito reflexivo, pensemos no modelo. 2. Na sequência, o passeio vai para o mapa conceitual a partir de uma estrada bem curta sobre a TA. Encontre o mapa por meio do link: https://drive.google.com/file/d/1eC-_mc5aKnGQLbQmL_bVmmVWYHGjcOWv/view?usp=sharing

 

O modelo dos modelos

Italo Calvino

Houve na vida do senhor Palomar uma época em que sua regra era esta: primeiro, construir um modelo na mente, o mais perfeito, lógico, geométrico possível; segundo, verificar se tal modelo se adapta aos casos práticos observáveis na experiência; terceiro, proceder às correções necessárias para que modelo e realidade coincidam. [..]

Mas se por um instante ele deixava de fixar a harmoniosa figura geométrica desenhada no céu dos modelos ideais, saltava a seus olhos uma paisagem humana em que a monstruosidade e os desastres não eram de todo desaparecidos e as linhas do desenho surgiam deformadas e retorcidas. […]

A regra do senhor Palomar foi aos poucos se modificando: agora já desejava uma grande variedade de modelos, se possível transformáveis uns nos outros segundo um procedimento combinatório, para encontrar aquele que se adaptasse melhor a uma realidade que por sua vez fosse feita de tantas realidades distintas, no tempo e no espaço. […]

Analisando assim as coisas, o modelo dos modelos almejado por Palomar deverá servir para obter modelos transparentes, diáfanos, sutis como teias de aranha; talvez até mesmo para dissolver os modelos, ou até mesmo para dissolver-se a si próprio.

Neste ponto só restava a Palomar apagar da mente os modelos e os modelos de modelos. Completado também esse passo, eis que ele se depara face a face com a realidade mal padronizável e não homogeneizável, formulando os seus “sins”, os seus “nãos”, os seus “mas”. Para fazer isto, melhor é que a mente permaneça desembaraçada, mobiliada apenas com a memória de fragmentos de experiências e de princípios subentendidos e não demonstráveis. Não é uma linha de conduta da qual possa extrair satisfações especiais, mas é a única que lhe parece praticável.

 

E o convite segue: escreva um comentário aqui no blog sobre o que você já sabe sobre TA, quais críticas e contribuições cabem neste cenário atual quando se trata da inclusão da pessoa com deficiência, os modelos que estão postos dão conta da acessibilidade de todas as pessoas? Aguardando vocês!

“Se o modelo não consegue transformar a realidade, a realidade deverá conseguir transformar o modelo.” (Italo Calvino)

 

Referências:

BRASIL, 2015. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. Lei 13.146 de 06 de julho de 2015.

BERSCH, Rita. Introdução à Tecnologia Assistiva. Assistiva – Tecnologia e Educação, 2017. Porto Alegre, RS

CALVINO, Italo. Palomar. Companhia das Letras, 1994. 3ª ed. [Palomar, 1983] Tradução. Ivo Barroso.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Tecnologia_assistiva

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm


1 Um comentário

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  • Bonilla17 minor

    Maria Helena Bonilla 15 de Junho de 2022, 13:56

    Que texto fantástico esse do Calvino. Ótimo ter trazido para nos ajudar na reflexão sobre TA e para desconstruir essa ideia de padronização, de uso de soluções únicas. Também ficou bacana o esquema síntese sobre o tema, trazendo o que diz a legislação e as características, classificação e ideias principais em torno do tema. Tente produzir o esquema em forma de imagem, colocando autoria e licença, para poder disponibilizar como REA.

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