Memória da Educação na Bahia
Edivaldo Machado Boaventura
Íntegra da entrevista com Edivaldo Machado Boaventura
Juliana Costa e Silva: Nascido em Feira de Santana o que motivou sua vinda para Salvador?
Edivaldo Boaventura: Esse negócio de nascido em Feira de Santana é o termo mais importante da minha vida. Eu sou Feirense militante, aliás perguntaram se eu era Feirense ou feirante, eu disse “as duas coisas, as duas coisas”. O que motivou a minha vinda para Bahia, como estudar na Bahia, se dizia assim: “descer para estudar na Bahia”, expressão da época, hoje, Salvador, é que meus pais achavam que eu devia fazer um bom colégio, então eu vim para estudar no Colégio Antônio Vieira, certo? Em Feira de Santana tinha um bom colégio que era o Santo Anápolis, mas vários dos meus amigos já tinham vindo para aqui, seja para o Antônio Vieira, seja para os Maristas, seja para o Dois de Julho, seja mesmo para o Central, então, eu vim para fazer os estudos e pra mim foi um deslumbramento encontrar um Colégio com uma biblioteca enorme em Línguas Estrangeiras, eu fiquei muito admirado, porque tinha livros em português, em inglês, em francês e alemão, eu nunca tinha visto. Feira de Santana nessa época não tinha biblioteca com livros em alemão, francês e inglês e, tomar conhecimento com pessoas formadas no exterior como padre Torram. Torram era um homem muito curioso, ele tinha uma excelente formação em botânica, ele tinha sido professor da escola agronômica, fez pesquisas em algas, tem até umas algas que tem o seu nome, Torrânacias, e ele era um homem para além do seu tempo, ele já era... já fazia o ecumenismo naquela época e tinha peculiaridades, ao mesmo tempo em que fazia missas, ele pesquisava algas, trazia pedras e plantas e estava muito preocupado em ensinar as pessoas a comer, as pessoas não sabiam comer, não sabiam se exercitar, não sabiam fazer exercício de estupidez, é, talvez tenha sido esse professor que tenha mais me marcado, embora eu tivesse outros como o padre Maris, bons professores negros, como era o caso... digo negros porque não eram formados jesuítas, o professor Raul Sais em português era muito bom, Inocêncio em química, em física variava muito, a minha física é um caso sério. Eu me lembro bem de força centrífuga e centrípeta e paro aí. Aquela época havia o curso clássico e o científico, como eu ia fazer direito já optei logo pelo curso clássico que tinha mais francês, mais inglês, mais latim era a época do latim, a gente decorava as traduções para passar no vestibular, e ele tinha pouca matemática, pouca química e pouca física. Esse colégio me serviu bastante, sobretudo, para estrutura da mente, educação da vontade, enfim tudo aquilo que os jesuítas pregavam eu aprendi, estudei e convivi muito com eles.
Nelson Pretto: Esse padre Torram também tinha um grande laboratório de ciências, não tinha? Um museu...
Edivaldo Boaventura: Tem, ele tinha um laboratório muito grande de pedras e de plantas e ele fez pesquisas nessa área e tinha também discípulos e seguidores em Recife, tanto que grande parte desse laboratório foi para Recife, não ficou na Bahia, ficou uma parte aqui mais o grosso dessas plantas catalogadas, das pedras também catalogadas foram pra Recife. Uma figura muito curiosa. É aquele, ô Nelson, que nós podemos chamar… se hoje nós já temos ciências na Bahia, podemos dizer que ele foi um pré-cientista daquela época na Bahia, com a sua formação francesa, europeia, e depois é que ele veio para o Brasil.
Nelson Pretto: Nessa época a escola era só masculina, não era?
Edivaldo Boaventura: É, o colégio era só masculino pelos padres portugueses, no final do meu curso é que chegaram os padres italianos, o padre Enézio e outros tantos, mas eram os padres portugueses e os padres brasileiros.
Nelson Pretto: Já era onde é, no Garcia?
Edivaldo Boaventura: Já era no Garcia, tinha uma escola, tinha uma escola a tarde, a escola Nossa Senhora de Fátima que todos aqueles meninos do Garcia estudavam nessa escola, compreendeu? Estudavam na escola. Não é o programa do ensino supletivo, hoje Educação de Jovens e adultos não, era uma escola primária que o colégio franquiava em convênio com a secretaria de educação, franquiava as instalações para os meninos pobres do Garcia frequentar a escola, eles já tinham esse aspecto social desde essa época.
Nelson Pretto: E Feira de Santana, como era o ensino em Feira de Santana?
Edivaldo Boaventura: Feira de Santana...
Nelson Pretto: Por que não ficar em Feira?
Edivaldo Boaventura: É, porque não ficar em Feira? Eu fiz em Feira o primário, pré-escolar o primário e no final eu ‘tava’ estudando ‘numa’ escola multisseriada, professora Helena Assis, tinha alunos que estavam entrando, alunos médios, e alunos maiores do que eu. Terminou isso, ela me preparou para o que na época tinha um pequeno tormento chamado exame de admissão, que era um pequeno vestibular que se fazia para entrar no secundário, ela me preparou em português, me preparou em aritmética, em geografia, em história, um pouco de desenho para me submeter ao exame de admissão, e destinavam... eu tava destinado, meus primos tinham vindo para aqui achavam que eu também tinha que vir, para o Colégio Antônio Vieira por ser melhor, por preparar melhor, como de fato eu acho que foi, eu tive muita vantagem porquê participei de um colégio bom e que tinha laboratórios… laboratórios de biologia, laboratório de física, eu que não aprendi física nem química, mas tinha bons laboratórios lá.
Nelson Pretto: Como foi seu ingresso assim...
Edivaldo Boaventura: Bem, eu vim seis meses antes exames de admissão e naquele tempo o primário da Bahia era de 5 anos, hein? E isso, tá nos livros que era de quatro, mas o primário na Bahia já era de cinco anos nessa época e eu estava no quinto ano primário, os seis últimos meses eu vim para aqui para me preparar para o exame de admissão e passei no exame de admissão, foi uma alegria muito grande. Quando eu voltei à Feira de Santana eu já estava matriculado no 1º ano do ginásio, o curso secundário, naquela ocasião era quatro anos de ginásio e três anos de colégio.
Nelson Pretto: E já tinha cursinho para admissão?
Edivaldo Boaventura: Já, não chegava a ter cursinho mas, tinha uma tensão e uma atenção muito grande com esse danado desse exame de admissão, compreendeu? Alguns perdiam.
Nelson Pretto: E era feito pelo próprio colégio?
Edivaldo Boaventura: Era feito pelo próprio colégio. O colégio tinha o primário, mas vinham muitos de fora para fazer o exame de admissão, para fazer o ginásio no colégio. Como também tinha o exame de admissão no Central que era muito rigoroso, como o Central era um colégio público para a classe média, o exame de admissão lá também era muito rigoroso.
Nelson Pretto: Como era o Central nessa época? Vocês tinham contato?
Edivaldo Boaventura: Tinha. Os colégios tinham times de futebol, o Vieira tinha um bom time de futebol, os Maristas tinham um time de futebol, o Dois de Julho e o Central também tinham. O Central era um bom colégio tanto fazia do ponto de vista da qualidade de ensino você entrar para o Vieira, para o Central para o Dois de Julho, como Marista, eram os mesmos colégios, esses eram os bons colégios que tinham em Salvador, tinham muitos outros mais esses eram os mais afamados, tinha também o Sofia Costa Pinto que era misto,que era também um bom colégio, compreendeu?
Juliana Costa: E na época era o ratio studiorum, não é?
Edivaldo Boaventura: Não, o ratio studiorum é a filosofia da Companhia de Jesus. Pra traduzir em termos mais claros pela ratio studiorum nós aprendíamos a refletir, aprendíamos o conhecimento de um maneira muito racionalizada, né? Muito racionalizada. E a educação da vontade, a disciplina, a disciplina muito rígida, aliás, esse ensino todo, essa época toda, tem uma disciplina muito, muito rígida, os jesuítas eram bastante rígidos nessa disciplina, horas ‘pra’ tudo, hora para o esporte, hora para os bancos, o estímulo para que nós fossemos bons alunos, para ter um papel, para que nós desempenhássemos um papel importante depois na sociedade, compreendeu? O colégio marcava muito a formação de lideranças, compreendeu? A liderança, o estímulo ao estudo, ao estudo das línguas, do francês, do português do francês, do inglês e também das ciências, uma grande ênfase nas ciências. Eu me lembro que o padre Borges ensinava química, ele tinha estudado na Espanha, quer dizer o conteúdo contava bastante nessa época, também história e geografia mas, as ciências: física e química e sobretudo, geologia.
Juliana Costa: Tinha alguma disciplina política? Alguma coisa assim?
Edivaldo Boaventura: Não! Tinha história, geografia, religião era matéria também para nós e o comportamento, tinha nota por comportamento. Me lembro que tinha nota para comportamento, sobretudo para os internos, os internos tinham que se comportar bem se não, não saiam no domingo, não saiam também na quinta-feira. ‘Pra’ sair no domingo o sub-diretor assinava a caderneta permitindo, mas só saia domingo quem tinha boas notas e quem tinha nota suficiente e bom comportamento. Eu fui interno quatro anos, quatro anos e meio, uma parte do colégio eu já fiz externo.
Nelson Pretto: E a avaliação? Era muito dura, tinha punição?
Edivaldo Boaventura: Não tinha punição, mas a avaliação era muito dura, as avaliações escritas, provas escritas e também chamada oral, havia muita chamada oral, muita cobrança e muita banca, o estudo em livros, eu ainda me lembro alguns livros, por exemplo, geografia de Moises Gicovate, a gramática de Eduardo Pereira, o livro de história de Joaquim Silva, era essa a bibliografia da época.
Nelson Pretto: Eram livros acadêmicos?
Edivaldo Boaventura: É, acadêmicos.
Nelson Pretto: Didático simplificados como hoje?
Edivaldo Boaventura: Eram livros acadêmicos, mas tinham muitos livros didáticos, a gramática era a mesma pra todo mundo, mas os livros de histórias eram livros mais didáticos, mas já tinham muitos livros acadêmicos, agora outros não. Agora, quando chegávamos no curso de colégio tinha literatura e aí nós liamos Machado de Assis, liamos os portugueses. Eu me lembro que eu li Guerra Junqueiro, lí...tinha análise lógica com Camões para procurar o sujeito lá embaixo do verbo era um inferno, aquele negócio de lógica, aquilo ali dá muito trabalho, compreendeu? Muita coisa, aprender aquilo foi difícil.
Nelson Pretto: Mas aprendeu?
Edivaldo Boaventura: (Risos) Mais ou menos, aprendi mais no curso vestibular com capitão França. Eu entrei nesse curso para aprender análise sintática, análise lógica, como se dizia. Para o vestibular, aí já foi outra… outro... aí já é no fim do colégio, compreendeu?
Nelson Pretto: Como foi o vestibular? Como era na verdade.
Edivaldo Boaventura: Ah, o primeiro vestibular… o vestibular era por faculdade, a faculdade dizia como ia ser o vestibular, a quantidade de alunos que entravam. A banca examinadora e a faculdade de direito fez… escolheu uma disciplina que não tinha no curso secundário e botou no vestibular, que era sociologia. Nós tínhamos que fazer um curso de sociologia porque o vestibular de direito exigia sociologia e a danada da disciplina não tinha no secundário, eu até fiz um artigo agora sobre o Hildásio Tavares que faleceu. O Hildásio ia fazer engenharia e resolveu fazer direito e o padre Torram pediu para eu dar um curso a ele, mas, eu disse, “Eu tô no segundo ano de direito, eu mal sei sociologia pra mim.” “Não, você se esforçando dá.” Mas, foi um desafio pra mim, eu sei que eu tive que aprender, estudar sociologia para ensinar Hildásio. Não sei quem mais estudou, se eu, professor, ou se ele, o aluno, eu sei que ele passou com as duas semanas de sociologia que eu ensinei, ele passou. Mas você veja como era uma disciplina muito exigida, como as outras todas, o vestibular não era unificado, o programa não era unificado, era a faculdade que determinava o tipo de exame, os professores também não eram especialistas no que estavam ensinando, quem sabia francês examinava francês, quem sabia inglês examinava inglês, quem tinha mais propensão para o português examinava português, ou então, traziam pessoas de fora para examinar o vestibular.
Juliana Costa: Como nasceu o interesse pelo curso de direito?
Edivaldo Boaventura: Ah, o curso de direito foi muito por exclusão, repare bem, eu não ia fazer medicina, não dava pra engenharia e então eu resolvi fazer direito, essas disciplinas, essas três matérias, essas três faculdades tinham muito peso na época. Muito peso, muito peso. A faculdade de filosofia já existia mas era tido para aquelas pessoas que se destinavam ao magistério, eu fiz um ano de sociologia, fiz ciências sociais, depois terminei, depois de formado em direito, eu vi que precisava fazer... gostava de ciências sociais, então fui e terminei o curso de ciências sociais outros também fizeram assim, Machado Neto, Izaídê fez assim, e outras pessoas fizeram, e não me arrependo de ter feito isso. Tive alguns professores bons, se bem que dois professores que eu tive na faculdade de filosofia, me botaram pra dar disciplina para os meus colegas, eu terminei professor, eu era o aluno, mas ensinava para eles, compreendeu? Ensinava ‘pra’ eles.
Nelson Pretto: Chegou a advogar, não?
Edivaldo Boaventura: Muito pouco, um ano.
Nelson Pretto: Boas causas?
Edivaldo Boaventura: Não, na realidade não me animei muito com direito, agora eu fiz concurso para juiz, aí fui juiz sete anos, eu fui juiz do trabalho durante sete anos. Até depois minha opção foi por educação, aí então eu renunciei ao cargo de juiz e fiz concurso para titular e passei, foi minha sorte, né? Minha sorte.
Juliana Costa: Como foi estar na Universidade? Experiências...
Edivaldo Boaventura: Ah, isso aí foi minha grande opção, assim que eu terminei o curso de direito, eu terminei o curso de direito no dia 10 de outubro de 1959, no ano passado eu fiz 50 anos de formado, eu comecei a me interessar pelo ensino, foi uma das minhas opções, eu então fui ensinar Direito do menor e Direito na escola de serviço social, ensinei dois anos lá, é uma escola particular, a Universidade Católica estava sendo criada naquela ocasião, mas a faculdade ainda era escola independente. Eu ensinei direito uns dois anos e nisso eu fiz concurso ‘pra’ SUDENE, eu fiz curso e concurso ‘pra’ SUDENE, entrei ‘pra’ SUDENE em Recife depois me transferiram para aqui, eu fui chefe da SUDENE aqui na Bahia e aí um colega que ia desistir de ensinar em administração me indicou ‘pra’ ensinar economia em administração. Eu fui ser professor de economia na Escola de administração, portanto, eu entrei pra Universidade Federal como professor de economia da Escola de administração. E lá ensinei durante muitos anos, depois passei a ensinar desenvolvimento, eu talvez tenha sido o primeiro professor de desenvolvimento econômico da Bahia porque em 64 eu já estava ensinando Desenvolvimento econômico em função do curso da SEPAL e da SUDENE que eu fiz foi um curso muito bom que me deu uma posição de destaque na SUDENE e em função disso é que eu fui chamado parar ensinar na federal.
Juliana Costa: E aí quando você sai de administração, você vem para educação?
Edivaldo Boaventura: É, aí muito tempo depois eu fui professor da escola de administração, primeiro professor contratado, depois professor assistente, cheguei a professor adjunto em administração, nesse ínterim, veio a reforma universitária e Dr. Roberto Santos me chamou para implantar a assessoria de planejamento para a universidade e eu com mais outros colegas, Izaídê, Machado Neto e mais outras pessoas, Aírton Brito, das estatísticas... fui montar a assessoria de planejamento, a assessoria de planejamento cuidava essencialmente da reforma, dos documentos da reforma, da departamentalização da universidade, como colocar os professores nos lugares, porque a reforma desvinculou o conhecimento do cargo, porque a cátedra, a cátedra, o conhecimento estava vinculado ao cargo e coincidentemente à pessoa e, a cátedra era vitalícia, enquanto a pessoa vivesse ele seria catedrático. A não ser que ele morresse, ficasse maluco ou então se aposentasse só assim é que deixava a cátedra, mas a escola de administração não tinha cátedra, tinha cátedra as escolas antigas, e, os catedráticos eram um ser muito poderoso, compreendeu? Um ser muito poderoso. Sobretudo, na faculdade de medicina. Eu fui catedrático apenas um ano, porque eu fiz a docência livre, e por ter feito docência livre eu assumi a cátedra de economia política da faculdade de direito que foi muito importante pra mim. Eu fiz a docência livre com, com 29, 30 anos. Eu quando deixei a faculdade de direito, o bacharelado, a faculdade de direito tinha um doutorado antigo. Minha opção pra ser professor a essa época já estava muito clara. Eu então fui fazer o curso de doutorado e fiz uma tese sobre os problemas de incentivo fiscais da SUDENE, já tinha feito o curso, tava ensinando essa disciplina, e então fiz minha tese sobre isso e deveria ter apresentado a tese para o doutorado, encontrei com o professor Silvio Farias que me disse o seguinte: “A cátedra de economia política da faculdade de direito está aberta, o professor está se aposentando, você faz o seguinte, ao invés de apresentar a tese, para doutorado você apresenta a tese para docência livre, porque você obtêm o título de doutor e o título de docente livre”. Então, eu fiz isso, apresentei a tese, invés de apresentar a tese para conclusão de doutorado eu apresentei para docente livre, então eu obtive meu primeiro doutorado, foi em direito, e aí a tese... com a tese em economia política, porque se dizia na época o seguinte: quem defende uma tese é doutor então o docente livre ele é doutor, ele tem dois títulos, ele tem o título de doutor e o título de docente livre. Bom, nisso ai eu fiz o concurso, passei, já era professor de administração, fiz o concurso, passei, defendi a tese e fiquei esperando meu rodízio, minha vez de assumir a cátedra porque foram três os docentes livres e eles tinham o direito de reger a cátedra, esse negócio de regência de cátedra era uma coisa muito complicada,compreendeu? Porque a cátedra, era... chamava-se mesmo conquista da cátedra, você fazia doutorado, fazia curso. Na faculdade de direito para você ser catedrático você tinha que fazer a docência livre, portanto, já era meio caminho, e com a docência livre você era professor de ensino superior, porque nessa época ainda não tinha as categorias de auxiliar, assistente ou adjunto. Ou era catedrático, ou era assistente de ensino superior, só tinha essas duas categorias. O assistente de ensino superior ficava esperando o catedrático morrer, ficar maluco, ou se aposentar para poder fazer concurso. Eu que fiquei, o catedrático já tinha aposentado, e primeiro foi o Dr. Jairo, Jairo Simões que exerceu, primeiro foi Washington que tinha feito docência livre comigo, Washington Trindade que exerceu a cátedra interinamente, depois foi Washington... nisso aí eu quando terminei o concurso, eu inventei de ir para Europa, para estudar na Europa, para tentar me preparar melhor para cátedra, compreendeu? Me preparar melhor para cátedra. Eu então fui pra Paris, lá me matriculei na Faculdade de Direito e Ciências Econômicas e na Escola Pratidique de Mundi Sientifique, no instituto da América Latina pra fazer desenvolvimento. Então, eu tava inteiramente envolvido, a minha geração estava inteiramente envolvida pelo problema do desenvolvimento, Juscelino tinha sido presidente, o sucesso do governo Juscelino, a indústria automobilística; o Brasil vivia essa euforia do desenvolvimentismo, todos nós liamos e discutíamos, não precisava ser estudante de economia não, todos nós vivíamos o desenvolvimento se lia bastante Furtado e esses outros autores de desenvolvimento. Tanto por isso, que a faculdade das ciências, da administração me chamou pra ser professor, porque eu tinha estudado economia e tinha estudado, sobretudo, economia do desenvolvimento, dentro disso, desse entusiasmo. Né? É a época em que Milton Santos já tinha ido a França, influiu também muito ‘pra’ eu ir. Eu fui para França, levei um ano na França, mas ai me falaram do Brasil: “Olhe você tem que vir fazer o rodízio, senão você vai perder o rodízio, quando você entrar no concurso você vai ter pontos a menos porque os outros dois já regeram a cátedra e você não regeu a cátedra”. Então, eu levei um ano na França preparando para ser catedrático, ou talvez, para fazer um outro doutorado na França, o meu desejo era fazer um doutorado na França, àquela época a França ainda contava muito, tinha Navarro de Brito que tinha feito doutorado lá, Geraldo Monteiro outro colega e a quantidade de pessoas aqui que andavam na França nessa época era muito grande, compreendeu? Era muito grande. Por isso, que eu também, influenciado, fui. Fui fazer, levei um ano… Quando eu voltei, então, supunham que eu sabia francês, né? E me botaram no vestibular para examinar francês, no vestibular. Eu tive que examinar os alunos em francês, eu sabia mesmo, né? Porque tinha estudado, então examinei o vestibular de direito e passei a reger a cátedra, compreendeu? Bom, aí regi a cátedra durante um ano, e continuei ensinando de noite, mas veio a reforma universitária e acabou com a cátedra. Acabou com a cátedra... A lei dizia o seguinte: “Está extinta a cátedra ou cadeira no sistema superior brasileiro” Sistema de educação superior brasileiro, quer dizer, pra não deixar dúvidas. “Tá extinta a cátedra ou cadeira”, acabou mesmo por completo, porque realmente foi uma desgraça a cátedra, porque vinculava o conhecimento a pessoa, vamos supor, a pessoa ganhava cátedra não estudava mais porque era catedrática e tinha todo o direito ninguém ia tirar ele, ninguém ia tirar-lhe a cátedra porque a cátedra era vitalícia, era um sistema diferente, né? Tinha o direito de ensinar, só ele ensinava aquela matéria… Quando eu voltei, já preparado para fazer a cátedra foi quando veio a reforma universitária.
PAREI NA PARTE 5/18
Juliana Costa: Fale um pouquinho da reforma educacional...
Edivaldo Boaventura: Ah isso aí é um grande …
Nelson Pretto:Antes um pouquinho da reforma, houve reação do final da cátedra? Quer dizer, havia um movimento político…
Edivaldo Boaventura: Não! Não, nenhuma.
Nelson Pretto: Os estudantes concordaram?
Edivaldo Boaventura: Não, os estudantes eram muito contra a cátedra, porque as principais vítimas eram eles. Se tinha professores já caquéticos, caducando, ensinando pela cátedra. Eu mesmo tive um professor de economia na faculdade de direito, ele dava os exemplos de economia antes da primeira grande guerra, compreendeu? Agora você veja como eram as coisas. O conhecimento era muito envelhecido, né? Os estudantes eram terrivelmente contra a cátedra. Ouviu Nelson? Uma coisa muito importante que ainda não foi dito, a reforma universitária começa com os estudantes, começa com os estudantes, o EB, UNI, eu participei desses movimentos nos anos 58/57. Há seminários na Bahia de estudantes, Suzana Alice participou desses seminários e o grande foco era acabar com a cátedra, acabar com a cátedra. Era o poder unipessoal do professor, com a cátedra, né?Somente ele ensinava, somente ele sabia mais ninguém sabia, compreendeu?
Débora Nascimento: Professor, o senhor trouxe um pouco essa questão do movimento estudantil. Quais as perspectivas que o senhor vê hoje para o movimento estudantil, fazendo uma relação entre o presente e o futuro. Quais os maiores desafios que o movimento estudantil tem enfrentando e quais são as maiores baixas, se assim a gente pode dizer assim, que o movimento estudantil já sofreu?
Edivaldo Boaventura: Olha, o movimento estudantil da minha época... o que eu posso falar já estou um pouco distante do momento atual, né? Estou fora da universidade a 6 anos. Primeiro o estudante tinha o papel muito ativo tudo o que era nacionalismo, tudo o que era capital nacional, tudo que era desenvolvimento essas foram as grandes bandeiras dos estudantes, eram as grandes bandeiras. A reforma universitária para modernizar o ensino em função dos grandes objetivos do desenvolvimento brasileiro. Eu fui, por exemplo, a um congresso da UNE, onde essas discussões ficaram muito claras. O candidato aqui da Bahia terminou ganhando a eleição, o Irã que foi presidente da UNE, essas bandeiras daqui eram muito claras a esses problemas do desenvolvimento, era uma bandeira muito do estudante, a participação na sociedade, também tinha greves mais era uma atitude muito positiva dos estudantes, muito positiva, não sei agora como é. No meu tempo estudante participava muito mais que agora, eu achava que participava muito mais. Havia passeata, protesto... o final do governo da gestão do professor Edgar Santos não foi fácil, pra ele reitor, porque teve bastante movimentos e tirar professor de faculdade também, quando eles não gostavam tiravam professor de faculdade, a faculdade de medicina, por exemplo, tinham uns professores que não ensinavam bem, dois ou três eles fizeram greve até que afastaram o professor, arranjaram uma maneira de afastar o professor. O estudante tinha uma atitude muito ativa e sobre o negócio da reforma então, faziam seminários, convidavam professor, ou eles mesmos preparavam os textos.
Nelson: E sobre a reforma? Fala um pouquinho mais sobre a reforma.
Edivaldo Boaventura: Bom, a reforma teve uma participação grande eu vinha do movimento estudantil, já com a , Suzana Alice, esse pessoal todo e, toda a sociedade, já tinham saído vários artigos já tinham vários professores, sobretudo fora da Bahia muito engajados na reforma da universidade. Aqui na nossa UFBA Dr. Thales de Azevedo presidiu uma comissão de reforma da universidade, que elaborou um documento. O reitorado de Dr. Miguel Calmon foi muito voltado para a reforma da universidade, mas o governo federal não elaborou nenhum documento normativo, a reforma era discutida pelos alunos, já era discutida pelas Universidades, mas o governo… O governo da época... o Jânio fica pouco tempo, né? É… o Jango não elaborou nenhum documento. Os militares assumem em 64, e considerando o problema do estudante, sobre isso, eles revertem a matéria, eles vão realmente voltar-se para as Universidades, então elaboram dois decretos leis que são extremamente importantes em 1966, sai o primeiro decreto/lei da reforma, esse decreto/lei é baseado no sentido… primeiro na indissociabilidade do ensino com a pesquisa e, segundo a economia de meios, e aí isso atingiu… atingiram as cátedras, porque havia, Nelson, uma repetição muito grande de cátedras e sem unidade. Você tinha matemática em engenharia, você tinha matemática em arquitetura, você tinha matemática em filosofia, você tinha matemática em várias, em economia e, você não tinha matemática como ciência crescendo em canto nenhum, canto nenhum. A mesma coisa física, você tinha física em medicina, tinha em filosofia, em engenharia, e já tinha essa época um instituto muito importante, era o Instituto de matemática e física, que o Batista Vidal dirigiu esse instituto criado por Dr. Edgar Santos, começam então, a surgirem os institutos e o grande referencial da reforma, é a Universidade de Brasília, isso é preciso que se diga. O grande referencial pra reforma universitária brasileira é a Universidade Brasileira, é a Universidade de Brasília, porque a Universidade de Brasília não tinha cátedra, a Universidade de Brasília tinha os institutos centrais, instituto central de física, instituto central de matemática, instituto central de biologia, instituto central de química, essa é a ideia de Darcy, eu acho Darcy muito importante para a educação superior brasileira, eu acho Darcy fundamental e se unindo ao Anísio, né? Unindo ao Anísio. O Anísio, quando o Darcy sai para ser chefe da casa civil, quem assume a reitoria da Universidade de Brasília é o Anísio. Esse projeto da Universidade de Brasília é que vai unir o documento elaborado pelo Conselho Federal de Educação que vai para o ministro assinar, é muito dessas ideias da Universidade de Brasília.
Nelson Pretto: Mas não é meio paradoxal os militares terem atacado tanto a Universidade de Brasília e depois implantarem uma reforma que tenha nela sua inspiração?
Edivaldo Boaventura: Pode ser “paradoxal”, mas foi o que houve. Aí o filtro foi o conselho Federal de Educação. O conselho Federal de Educação filtrou… Anísio tinha sido do Conselho Nacional Federal de Educação essas ideias estavam muito sendo discutidas e Darcy já estava no exterior, mas a Universidade estava ai, a Universidade foi invadida várias vezes, professores foram aposentados, professores saíram, houve duas saídas grandes, a Universidade de Brasília sofreu muito a nossa nem tanto. Aqui foram poucos os professores aposentados, poucos. Não me lembro assim de nome, Farias foi embora para a Inglaterra, tudo isso, de maneira que esse foi o primeiro decreto, o segundo decreto vai deixar mais claro o papel do departamento, eu acho que a Universidade tem duas ou três ideias que são extremamente importantes, primeiro a grande ênfase na pesquisa, a pesquisa era inexistente no meu tempo de Universidade como aluno, como aluno era inexistente, praticamente inexistente. Você não tinha programa de pesquisa. Segundo, essa pesquisa ligada ao ensino, a coordenação acadêmica da Universidade, a coordenação dos cursos, a coordenação do colegiado, do conselho de coordenação, a coordenação das várias áreas, compreendeu? A Universidade do meu tempo era a reitoria e as faculdades, a reitoria e as faculdades. Algumas dessas faculdades estavam reunidas no conselho universitário outras não, administração… admisnistração não tinha participação no conselho universitário, nutrição não tinha participação no conselho universitário, biblioteconomia não tinha participação no conselho universitário, essas faculdades novas não tinham participação, vem a reforma universitária e reestrutura tudo isso, por isso, que uma palavra chave pra você entender a reforma universitária nos seus primeiros momentos, é reestruturação, em 66, 67, 68, você vai ouvir muito falar dos planos de reestruturação das Universidades federais, então só as universidades federais que estavam sendo reformadas, o resto não estava. Com os problemas e os grandes protestos de 1968, aí que em vez de reestruturação, você vai falar em reforma da universidade.
Nelson Pretto: Quer dizer que o departamento então, vem de antes do período militar?
Edivaldo Boaventura: O departamento está na universidade brasileira desde 1937, mas sem nenhum papel que veio a ter, havia nas escolas… havio o conselho técnico departamental, que era uma espécie de pequeno colegiado que em algumas escolas funcionavam, o grande colegiado das escolas era a congregação, a congregação era o órgão poderoso, mas havia esse conselho técnico departamental que era a reunião, o lugar onde os departamentos funcionavam. Como a minha tese foi sobre departamento, Nelson, tem uma coisa muito interessante, eu encontrei faculdades que tinham conselho e não tinham departamento pra você vê como funcionava formalmente o departamento, o departamento vai tomar realmente o seu lugar com o decreto de 67, decreto de 67… esse aí que ele vai ter um papel mais saliente, e essa ideia de coordenação dos cursos, só aqui, na nossa faculdade aqui de junto (administração) que tinha coordenação ao nível dos cursos, tinha o coordenador dos cursos de administração de empresa, e o coordenador do curso de administração pública, somente eles que tinham, os outros não conheciam a figura do coordenador, era inteiramente desconhecida como orientador também não, inteiramente inexistente nessa época não tem orientador não tem nada disso. Quer dizer, essa universidade da reforma é uma universidade sistêmica, uma universidade coordenada academicamente, uma universidade que vai colocar ênfase na pesquisa, a pós-graduação se define aí também, Nelson, a pós-graduação se define em 1965, com o famoso parecer de Nilton Sucupira do Conselho Federal de Educação que define a pós-graduação, define como nós temos latu sensu e scrito sensu. Se fazia cursos de especialização, mas não eram cursos latu sensu, sem esse sistema que nós tínhamos e, havia cursos de doutorado, na Bahia direito tinha doutorado, medicina tinha doutorado, mestrado não tinha nenhum mestrado aqui, vem então a pós-graduação, e estabelece os cursos de mestrado e doutorado. Portanto, a ideia de reforma e de ênfase na pesquisa vai coincidir justamente com o desenvolvimento da pós-graduação que eu estou convencido de que foi a maior revolução branca que esse país já fez, ‘tô’ convencido de que foi a maior revolução branca que esse país já fez, do ponto de vista cultural eu não conheço outro movimento que tenha contribuído tanto para a cultural brasileira como a pós-graduação. Não conheço. Os professores não tinham formação, eram autodidatas, compravam os livros, liam os livros, um ou outro é que ia a Europa, um ou outro é que ia aos EUA, um ou outro é que ia talvez a Argentina, para se formar, mas isso de formar o professor com mestrado, com doutorado, com especialização e com pesquisa, isso é realmente é da reforma ‘pra’ cá.
Débora Nascimento: Professor, em 91 foi implantado o doutorado em educação. Como é que o senhor pode falar pra gente sobre essa implantação?
Edivaldo Boaventura: Ok! A Faculdade de Educação vai viver durante muito tempo com o mestrado, certo? É um dos primeiros mestrados da federal. Creio que o primeiro mestrado da federal é o mestrado de química, “física do estado sólido” também, que foi mestrado e foi doutorado com Dias, química, “física do estado sólido”... ciências sociais e história com Machado Neto em Filosofia e, o nosso em 1970 começou o curso aqui na Faculdade de Educação, um curso para formação de professores que teve uma pequena ajuda da UNESCO, veio uma mulher muito famosa Chilia Gorga, uma mulher retada mesmo, uma jamaicana, foi a primeira pessoa que trabalhou no mestrado, no nosso mestrado, ela trabalhou bastante a Mª Brandão trabalhou com ela, mas o primeiro mestrado mesmo foi dessa mulher, uma jamaicana, mulher alta, danada tinha uma experiencia internacional grande em matéria de educação, o mestrado vai funcionar... eu estou fazendo essa volta para chegar ao doutorado, o mestrado é de 70 a 72, 72 ele vai para o conselho federal de educação, 72, 82… quando ele completa 20 anos a faculdade começa a pensar em ter doutorado. Eu tinha deixado a secretaria de educação, a 2ª vez que fui secretário e voltei pra faculdade, voltei pra ensinar, aliás, todas as vezes que eu deixava a secretaria voltava pra ensinar aqui direitinho, sem nenhuma cerimônia, era aqui que eu ensinava, essa faculdade foi muito importante na minha vida. E criou-se então uma comissão para estabelecer, para criar o doutorado: Alírio, Terezinha Fróes, eu, Alda Pepe e mais outras pessoas e, me nomearam o coordenador dessa comissão. Eu passei então a me interessar nessa comissão, eu já frequentava a AMPED, soube ‘numa’ reunião de São Paulo somente para doutorado, somente para doutorado em educação, fui a essa reunião na Universidade de São Carlos, em função do nosso projeto aqui, mas nós estávamos discutindo nosso projeto de doutorado com os outros mestrados que existiam na região, na época que era Recife e Ceará. Era Bahia, Recife e Ceará eram os três mestrados, então pensávamos em fazer um doutorado com sede aqui um ano, no outro sede em Recife e no outro com sede no Ceará, eu fiz então o projeto e mandei para a câmara de pós-graduação, a câmara de pós-graduação nem aprovou, nem desaprovou, transformou em diligência, é uma boa solução. Me lembro que tivemos uma reunião, veio uma pessoa discutiu conosco, e aí veio uma greve, aí veio uma greve, o projeto veio para mim para... quem é a diretora da faculdade nesse época… Edilza, não, é essa menina, jandira. Jandira Simões, entregou o projeto vamos reformular o projeto então, mas vem a greve, então eu vi que esse negocio de doutorado regional pra funcionar aqui na Bahia, no Ceará, em Recife isso não ia dar certo, então eu transformei esse doutorado, esse projeto, num doutorado da UFBA e, reformulei todo o projeto, essa época eu já tinha sido coordenador do mestrado anteriormente e... nós demos um pulo muito grande aí, não foi? Eu tinha muito contato com a CAPES, então o pessoal da CAPES, “Então você, insista nisso etc e tal”, primeiro nós poderíamos ter doutorados porque tínhamos doutores, naquela época nos tínhamos 9 doutores aqui, quase todos... 5 formados comigo nos EUA, com doutorado. Eu então reformulei o projeto, reformulei o projeto todo mandei para a câmara de pós-graduação e a câmara de pós-graduação aprovou, aprovou, aprovou… com uma pequena… um pequeno pedido, uma pequena diligência, porque não houve a participação do Conselho Departamental, pediram que houvesse a participação do Conselho Departamental, então eu falei com a diretora, reuni o Conselho Departamental, eu fui ao Conselho Departamental e houve uma decisão emtão do Conselho Departamental, aprovando o doutorado então o doutorado foi aprovado, mas havia o seguinte me diziam assim na época: “Olha o nosso mestrado tá funcionando muito bem, não venha com seu doutorado pra cá você, fica com seu doutorado pra cá mas não mistura com o mestrado.” Você imagine? Como instalei o doutorado com duas disciplinas, os professores eram os mesmo mas evidentemente que em três ou quatro ou seis meses depois, o mestrado ‘tava’ unido ao doutorado que era um caminho, não tinha outra solução. Eu instalei fui o primeiro coordenador eu já tinha sido coordenador, fui coordenador do mestrado 4 anos, deixei para ir para Penny State, e aí, veio o mestrado com as disciplinas obrigatórias duas ou três disciplinas obrigatárias para o doutorado, e com as áreas de concentração isso já era muito claro e também os núcleos temáticos também, tudo isso já era muito claro, foi até uma colega de matemática que deu o parecer, eu fui até falar com ele, deu um parecer sintético, elogioso e em 91 nós botamos o mestrado pra funcionar e tá até hoje.
Nelson Pretto: Volta um pouquinho e fala do mestrado que agente deu esse pulo, né? Como foi?
Edivaldo Boaventura: Ok, o nosso mestrado começou em 1970 com esse “Granicht” da UNESCO pra comprar livros, para comprar revistas e pra trazer gente de fora, veio Elizabeth Debré, veio Graça Arena é e outros professores, e outros professores. Maria Brandão coordenou até 74, mas a faculdade achava que devia ser um professor da faculdade para coordenar o mestrado, então eu passei a coordenar o mestrado e ai entrei muito em contato com a CAPES, ela nos ajudou bastante em trazer professores brasileiros para dar, por exemplo, disciplinas de avaliação, nós tivemos a Goldenberg, que veio repetidas vezes vieram muitos professores de São Paulo para compor nosso currículo para as nossas primeiras turmas de mestrado, isso foi assim durante um bom tempo nós não tínhamos professores suficientes, tanto que os primeiro professores do mestrado tinha eu que era da faculdade, Navarro que era de Filosofia, mas fazia parte do curso, Joselice Macedo que era de letras, a outra menina também que era… Jiselda, Jiselda Moraes que era da Universidade de Sergipe que nos deu grande ajuda, foi ela quem conseguiu credenciar o mestrado, ai eu já tina saído para Penny State quando ela veio, e aí depois vieram os outros, os outros doutores da aula a esse pessoal.
Nelson Pretto: Era uma uma orientação mais pra linha da psicologia não?
Edivaldo Boaventura: Para psicologia e para linguagem e educação era muito psicologia. Muita psicologia, os principais... ai você vai encontrar muitas dissertações sobre observação sistemática em sala de aula, vai ter uma série de dissertações sobre observação sistemática em sala de aula, era o que Jiselda fazia né? Fazia muito isso, e vinha muitos psicólogos de São Paulo nos ajudar aqui, psicologia ligada a educação psicologia da educação, essa época é uma época em que a psicologia conta muito pra nós.
Nelson Pretto: Havia uma relação de distanciamento ou de proximidade com o conjunto da faculdade, a pós-graduação era inserida? Articulava a graduação?
Edivaldo Boaventura: Não. As pós-graduações nascem, Nelson, inteiramente fora dos departamentos fora da estrutura. Você tinha um mestrado e tinha os departamentos , os departamentos eram pra servir a graduação, não era pra servir a pós-graduação, compreendeu? Havia porque eu por exemplo participava do meu departamento, eu alias era chefe de departamento e coordenador do mestrado acumulava duas coisas,mas é uma caso ou outro. Institucionalmente, nem do ponto de vista do relacionamento não existia, as pós-graduações estão no nível muito de câmara de pós-graduação de pró-reitoria de graduação, ela se articulavam e com a CAPES elas se articulavam por ali compreendeu é uma fase também que os mestres vão ser coordenadores do mestrado é a fase de Arapiraca, Iracy Picanço e etc.
Nelson Pretto: Já que estamos andando pra trás, você quando falava na história da pós-graduação como tendo uma importância grande, fala em torno 68, 69, 70 também é quando a CAPES surge de forma mais forte como formação de professores, não?
Edivaldo Boaventura: A CAPES nasce fazendo estudo sobre profissões no Brasil, mas ela vai pouco a pouco, bolsas, ela vai pouco a pouco se assoreando da pós-graduação, ela vai chegando, vai chegando, vai chegando, vai chegando, vai chegando, vai liderando a pós-graduação o plano da pós-graduação o plano de desenvolvimento da pós-graduação é feito pela CAPES. Agora tem ai um momento dos anos 70, 76, 75 esse é um momento importante, é que o Ministro Veloso, resolve dar uma bola de dinheiro para a CAPES, ele viu que o desenvolvimento da pós-graduação com mestres e doutores era extremamente importante para o Brasil. E é diretor da CAPS, de Darci Clos, então em 1976, essa bola de dinheiro. Tanto que fomos daqui... Só do meu departamento fomos seis (6), fazer Doutorado nos Estados Unidos (EUA). Porque aumentaram muitas bolsas e a oferta era uma coisa imensa. O Ministério do planejamento realmente foi ao encontro desse plano de pós-graduação, estabelecido pela CAPS, sob o intermédio da Darci Clos. E o Darci Clos vai fazer mais, ele vai chamar os programas existentes, chamou nós daqui, chamou Brasília, chamou São Paulo, chamou Rio Grande do Sul e chamou Espírito Santo para criar as associações científicas, em 76 eu participei das primeiras reuniões juntamente com Saviane, Juraci Marques do Rio Grande do Sul. Isso é um marco na pós-graduação, e a Bahia participa desde o inicio, nós participamos da AMPED, desde a criação. Nós vamos e essa explosão da pós nos anos 70, que vai muita gente para os Estados Unidos, para a Europa, o Brasil tem poucos Mestrados e Doutorados, mas, mesmo assim, muitas pessoas saíram do país. Eu fiz parte de três ou quatro comissões para credenciamento do Mestrado e do Doutorado. Fiz parte da comissão da Fundação Getúlio Vargas, da comissão da USP, para credenciar o mestrado da USP, e de várias outras comissões aí eu fui nomeado, para… porque eram poucos os programas que se tinha nessa época.
Juliana Costa: Foi solicitado ao Professor que contasse um pouco mais sobre suas experiências como aluno e Professor na década de 60…
Nelson Pretto: Principalmente na época do golpe militar, como era o homem político também?
Edivaldo Boaventura: em 60, esse ano, essa época ainda, eu não era ainda professor da faculdade, eu era professor da Faculdade de Administração, e regento a Cátedra interinamente por um ano só. Houve bastante problemas, muitos problemas com colegas muitos colegas presos, muitos colegas deram depoimentos, eu mesmo tive minha casa vasculhada, porque eu tinha preparado para o meu concurso de docente livre, eu tinha preparado os livros assim, por assunto, por assunto capitalismo, socialismo, economia, e fiz o concurso, né? E, foram lá em casa e levaram meus livros, levaram meus livros; eu digo, mas… isso aí vão fazer concurso com os livros? Que eu tinha feito o concurso. No início logo foi difícil. Bom, eu saí para... aí eu fui a França, assim que eu terminei o curso de livre docência, eu fui à França pela primeira vez, como eu disse, me preparar para a cátedra. Eu era professor de economia política, não tinha feito a minha opção pela educação. Esse ponto nós vamos chegar daqui a pouco. Nisso eu volto da França, e, Doutor Roberto Santos me chama para montar o Órgão do Planejamento da Universidade, corresponde mais ou menos ao cargo de pró-reitor de planejamento. Não tem ainda pró-reitor nessa época, só tinha reitor e vice-reitor somente, não tinha mais ninguém. Eu então montei a acessoria de planejamento, a distribuirão do pessoal docente, porque você repare bem, saem os cargos de filosofia, saaem os cargos de engenharia para montar esses novos institutos, e você tinha que fazer os institutos com os professores existentes na época, né? Fazer essa lotação… agora, para onde ia o conhecimento, ia o professor. Isso é que é importante, para onde ia o conhecimento, ia o professor. Geometria analítica, quem ensinava geometria analítica, seja de onde fosse, bom, vai para o instituto de matemática; física, quem ensinava física, todas as suas físicas, vai para o instituto de física. Então você ia fazendo aquela lotação de pessoal e distribuição do pessoal docente pelo conhecimento, aonde ia o conhecimento da disciplina ia o professor. Então, ia se constituindo os institutos e ao mesmo tempo ia se fazendo o regimento para os institutos. Há um documento novo que a Universidade elaborou a essa época, você tinha o Estatuto da Universidade, mas você não tinha o regimento da universidade, você só tinha regimento por unidades. Então a Universidade estabelece um comportamento regimental com cursos, o regimento por exemplo, ‘bota’ concursos, o concurso mesmo para todas as unidades, nada diferente de outras unidades, né? O regimento fez isso, o regimento… isso sai por volta dos anos 1978/79 por aí assim. Eu então fico nessa função, e estava nessa função tratando a departamentalização da Universidade, do pessoal docente, quando sou chamado para ser Secretário.
Nelson Pretto: Toma aí.
Edivaldo Boaventura: Talvez, a opção mais séria que eu tenha feito na minha vida, foi ter deixado o direito para o qual eu estava habilitado, eu sou bacharel e doutor e docente livre em direito, e, ter feito uma opção pela a educação. Eu era nessa ocasião professor da Escola de Administração e Juiz do trabalho, e, comecei a trabalhar diretamente em educação. Diretamente em educação na reitoria da UFBA, com os problemas da reforma. Eu sempre… lí bastante sobre universidade, sou do tempo... quando aluno da Universidade, eu me esqueci de dizer isso, eu pertenci a um movimento que foi muito sério e que teve uma consequenciz muito grande para mim, foi a Juventude Universitária Católica (JUC). Não era política estudantil, mas, andava perto disso, depois de ação popular e outras coisas também muito perigosas aí... mas eu fui sobretudo de (JUC), e isso me deu um despertar para o meio, trabalhar em função do meio, e etc e tal. E com isso, desde essa época que eu lei sobre a Universidade. Universidade, comunidade, desde esse tempo que eu leio. De maneira que a reforma universitária, me pegou e eu comecei a me interessar para a educação com o um problema. Eu li recentemente Polpen que tem uma frase maravilhosa, ele diz assim: “a ciência começa por problema e termina por problema”. Eu achei essa frase de Polpen maravilhosa, eu passei a me interessar pelos problemas da reforma… da reforma da universidade. A universidade na minha época era uma universidade muito isolada, muito isolada, muito sem coordenação. E, ao mesmo tempo, eu concomitantemente o tempo que eu era assessor, eu fui para o conselho estadual de educação. E, comecei a trabalhar no Conselho Estadual de Educação, vendo os processos de educação básica, educação média, promoção automática de aluno, diferença alunos/série, regularização de vida escolar de aluno, autorização de cursos, credenciamento de cursos. Nisso eu fui me envolvendo, quando eu olhei assim, eu ‘tava’ de tal maneira envolvido pela educação que era uma opção pra mim. Tava escrevendo já… resolvi, tinha acabado a cátedra, resolvi fazer o concurso de professor titular com uma tese sobre “O departamento na universidade, um estudo empírico antes e depois da reforma”. Bom, aí eu vi que o jurídico existia muito pouco em mim, não estava mais querendo trabalhar em direito, queria trabalhar mesmo era em educação, então renunciei ao cargo de Juiz e me transferi da escola de administração para a faculdade de educação. No momento que a faculdade era criada, quer dizer, para criar essa faculdade, veio o antigo departamento de pedagogia, veio o programa de linguística aplicada a educação, é um senhor programa de José Lício Macedo, formou muita gente, o SESIBA, que nessa ocasião era Protap, Luiz Rogério que estava lotado no hospital das clinicas, veio ‘pra’ aqui. Tobias também veio ‘pra’ aqui, e eu que era de administração e vim ‘pra’ aqui. Então realmente eu desisti de ser Juiz, para ser professor integral, aí sucedeu que eu fui ser secretario de educação pela primeira vez. E quando eu vi eu ‘tava’ inteiramente envolvido por educação. E lá então passei a viver outros tipos de problemas, primeiro: nos colégios polivalentes, nas escolas polivalentes, que foram um dos grandes programas de educação que teve a Bahia, para as escolas polivalentes você tinha três perspectivas: construção das escolas, equipamento das escolas e a formação de professores. Para a faculdade aqui, Nelson, foi um desafio, porque a faculdade ‘tava’ sendo criada e teve que assumir toda essa responsabilidade de formação de professores para os colégios polivalentes. Só podia ensinar nos colégios polivalente quem tivesse licenciatura, isso foi… pela primeira vez sucedeu isso na Bahia. E tinha disciplinas que nós não tínhamos… com o terrível atraso educacional que a Bahia… que a Bahia é muito atrasada em matéria de educação, a Bahia é muito atrasada em matéria de educação, em 1970 a Bahia, não tinha educação física, então como é que ia ensinar educação física nas escolas polivalentes? Que só podia ensinar nas escolas quem tivesse licenciatura em educação física. Nós mandamos alunos para a Universidade de Recife, formasse lá, compreendeu? Sei que dei início esse grande programa do ginásio polivalente… examinei uma tese agora na UNEB sobre as escolas polivalentes, uma coisa que requiriu de mim muita atenção. Depois, com essa grande carência de formação de professores, a Bahia é o Estado que tem menos… até hoje, é o estado que tem menos professores formados, para o ensino básico e fundamental. O ensino fundamental e médio, que tem menos professores formados é a Bahia. Pois bem, doutor Luiz Vianna, criou as quatro faculdades de formação de professores, é a Bahia. Pela primeira vez, o Estado da Bahia vai entrar na educação superior, uma faculdade de formação de professores em Feira de Santana, que não sei porque começou a se chamar faculdade de educação, não tinha curso de pedagogia, terminou virando mesmo faculdade… chamando faculdade de educação, outra em Vitória da Conquista, outra em Alagoinhas e outra em Jequié. Foram as quatro primeiras faculdades que o Estado criou para formar professores. Essas faculdades requiriram de mim muita atenção, e onde é que você vai achar professor formado para ensinar nessas faculdades? Enquanto foi em Feira de Santana aqui tá certo, pegávamos uma caminhonete e levávamos Joselito, Zé M. Neves, levava outros professores para ensinar lá, e, para Conquista para Alagoinhas também. Nós estávamos montando, com o Secretário, montando essas faculdades quando a comunidade de Feira de Santana, e, por isso que eu disse que é o que conta muito na vida é Feira de Santana, Feira de Santana é a terra da sabedoria, e a terra também da inteligência, quando eu digo aos alunos que eu tenho dificuldades de aprender as coisas eu digo: “Olha, você pega um ônibus e vai alí para Feira de Santana, leva uma semana lá que o ar da cidade torna torna você inteligente” compreendeu? A inteligência de Feira de Santana está no ar, está no ar, e os meninos acreditam nisso, viu? Ou se não acreditam, não me negam. Então, a comunidade de Feira de Santana, há muito tempo que desejava ter sua faculdade, ter sua universidade, vão a Luiz Vianna, governador. Pediram uma faculdade de medicina. Luiz Vianna, dizia assim: “Mas vocês merecem uma universidade, porque não botar uma universidade em Feira de Santana?” Era isso que os feirantes queriam, né? Então ele manda uma lei para a Assembleia Legislativa permitindo, nos termos da época, né? Permitindo que o governo Estadual criasse uma universidade estadual, foi a primeira universidade estadual, foi criada por essa emanação da comunidade. Mas, visando sempre a formação de professores. Tem uma tese aqui na Bahia estúpida onde o autor da tese diz que o ensino superior do Estado é para contentar eleitoralmente as pessoas, com essa carência que você tem de professores na Bahia, seu Nelson? A pessoa devia pensar duas vezes antes de dizer uma coisa dessas, quem dirás escrever uma dissertação, uma tese sobre isso. Com as carências que você tem, que você sabe de formação de professores para esse estado, compreendeu? De maneira que a Universidade de Feira nasce com essa determinação para a formação de professores. De maneira que a Universidade de feira, nasce com essa determinação para formação de professores como já tinham as quatro faculdades. Eu dei muita atenção também a isso, às escolas polivalentes, ao parque histórico de Castro Alves, eu acho também que as escolas no interior, precisam de um apoio, um apoio cultural, se tiver uma motivação dessa, de criar um parque para ter uma escola dentro, ótima! Porque a glória do poeta ajuda as pessoas a aprenderem, compreendeu? Como é o caso da faculdade de Catité, pela emulação de Anísio ter sido de lá, e de outros lugares também. Assim nós criamos o parque histórico de castro Alves, na primeira vez que eu fui secretário dando... colocando na vida de Cabaceiras o ensino de primeiro grau completo, cim, primeiro grau completo, quer dizer, por causa de Castro Alves, por causa do parque, criamos uma escola de ensino de primeiro grau completo, de maneira que foi outra realização grande. Quando eu terminei a secretaria de educação pela primeira vez, eu terminei a fonte nova, a danada da Fonte Nova ficou na minha secretaria. Secretaria de educação antigamente era um império, tinha escolas, tinha a Fonte Nova, tinha arquivos, tinha parque cultural do Estado, tinha isso tudo, tinha museu e tudo. Tudo isso o secretário tinha que tomar conta, dinheiro era outra coisa, tem que arranjar dinheiro. O grande opositor do secretário de educação, era o secretário da fazenda, para liberar recursos, né? Para liberar recursos. Aí quando eu terminei já tinha tido um convite com o assessor do Doutor Roberto, para ir para o Instituto Internacional de planificação da educação, o Instituto Internacional de planificação da educação, é um Instituto criado pela UNESCO, que capacita pessoas do Terceiro Mundo, latino americanos, expressão que eu não gosto, não gosto de negócio de América Latina, eu digo América do Sul mesmo, primeiro que nós não somos tão latinos assim, se você diz América Latina, você esta excluindo os afrodescendentes, como também os índios, né? Você também tá excuindo os índios. Eu digo América do Sul. Pois bem, então tem o pessoal da América do sul, americanos, africanos, e tem asiáticos, né? Iam lá para aprender a fazer estudos de financiamentos das escolas, financiamento das universidades. Eu trabalhei com Messier Tibir e estudei o financiamento… como eram financiadas as quarenta universidades da Colômbia naquela época. Quarenta universidades da Colômbia. E para fazer minha memória de fim de estágio, eu escolhi “crescimento dos efetivos e a reforma da Universidade da Bahia”, foi esse o meu tema. Porque vão crescer os efetivos no governo… com o reitorado Roberto Santos, vão crescer com o reitorado de Roberto Santos, porque? Por causa do primeiro plano do BIT, é o Campus da Federação toda que é construída, nessa época, o que permitia aumentar os efetivos. Foi um ano inteiro que eu levei França nesse Organismo Internacional, de junto de mim sentava um sujeito do Burundi, Burundi é quase do tamanho de Sergipe, então quando eu falava dos números do Brasil, oito milhões de quilômetros quadrados, ele ficava totalmente atordoado. “8 milhões?” “É 8 milhões!” O Burundi, deve ter ai uns quarenta mil quilômetros. Tinh gente do Cameron, tinha um sujeito do Bangladesh, que foi pra lá porque era do Paquistão, mais quando ele estava lá o Paquistão Oriental se separou do Paquistão e virou Bangladesh, e ele não pôde voltar porque não tinha passaporte do Bangladesh, não existia Bangladesh quando ele saiu de lá, você veja como é que são os problemas, né? Até que o Instituto interveio, e com o novo governo e explicou que ele foi para lá era Paquistão, mas agora é Bangladesh então ele tinha direito ao passaporte. De maneira que foi minha experiência internacional, essa foi muito interessante eu passei a época que a UNESCO tá discutindo o problema da educação permanente, aquele famoso relatório Edgard Forgman, aprender a ética, aprender a ser, compreender o financiamento de escolas, financiamento de educação, despesa, custo corrente, custo de capital, compreendeu? De maneira toda essa experiência eu trouxe para aqui e minhas disciplinas no mestrado nessa época vai ser Sistema de Educação. Eu devo ter enchido a cabeça desses pobres alunos com negócio de Sistema de educação input, output, etc. O livro do Combus tinha saído, na época da Crise Mundial e eu estava muito envolvido com isso, bom, então volto pro mestrado com essa experiência internacional e ai passo a coordenar o mestrado, sou candidato a diretor da faculdade mas não deixaram que eu assumisse, fiquei meio frustrado mas é isso mesmo faz parte do jogo.
Nelson Pretto: Deixa ele contar um pouquinho dessa história que não deixaram assumir, por quê?
Edivaldo Boaventura: Meu nome foi na lista, eu fui aprovado na lista ‘pra’ ser diretor da faculdade o primeiro da lista, mas eu não pude ser nomeado, quem foi nomeada foi Theresinha Guimarães, porque eu não era da confiança do pessoal, pouca gente sabe disso. Não fui nomeado, então aí, eu já estava trabalhando no mestrado, continuei no mestrado, na verdade a gente fica meio chateado, né? Fica assim... Já ‘tá’ na época de ser diretor, participava muito, eu tinha sido membro do Conselho de Coordenação durante 04 anos, presidi a câmara de pós graduação naquela época, presidir a câmara de pós-graduação era um sucesso, era só os médicos, o pessoal da Engenharia. Eu consegui, de Educação, presidir a câmara de pós graduação. Então, aí comecei a trabalhar ensinando na graduação, eu sempre ensinei na graduação e sempre gostei muito de ensinar na graduação. Nelson, toda vez que eu ia começar a minha disciplina de Metodologia da pesquisa, para preparar a monografia, Nelson ia. Se lembra, Nelson? Nelson toda vez foi. Foi uma boa experiência que eu tive com o pessoal de Pedagogia, viu? Muita gente fez a monografia, o meu curso terminava com o pré-projeto, certo? Daí então fazia o projeto, até que veio esse “Boom” da pós-graduação que eu tô falando aí. E a CAPES… Meu contato com a CAPES foi muito grande, eu ia na CAPES quase todo mês, ver a CAPES, os programas eram poucos também, então a CAPES dava assistência muito grande, e dinheiro também. Teve uma época que eu tinha dinheiro para 03 cursos de especialização aqui, 03 cursos de especialização. Além do mestrado, tinha dinheiro da CAPES para curso… tinha 03 cursos de especialização aqui no nosso mestrado. Eu então resolvi aí fazer o doutorado em educação porque eu já tinha experiência e notava que precisava ter mais alguma coisa do que experiência, então eu fui para Penn State e lá foi um desafio danado porque o meu inglês era para I ask you, I am hungry, tudo isso. Mas lá eu tinha que escrever em inglês ai meti as caras no inglês, foi um desafio terrível tinha que exame de Toffer, tudo isso foi um desafio muito grande ‘pra’ mim, mas muito me serviu eu me alfabetizei em Psicologia da Educação, tomei bons cursos de Psicologia da Educação se bem que a parte central do meu doutorado foi em administração da educação, é... fiz Cultural Foundations of Education, parece que é Fundamentos Culturais para Educação, e muita ênfase em pesquisa, metologia da pesquisa, aí foi que eu fui aprender realmente a metodologia da pesquisa. Autores famosos como Corniguer, que é um autor holandês que tem um bom manual de Metodologia de pesquisa, aprendi com uma senhora Doutora Snider, essa mulher me ensinou uma coisa que eu repito para todos os alunos que eu ensino Metodologia: um projeto de pesquisa tem muita coisa importante, mas tem 03 elementos que são sumamente importantes. O problema, um problema bem definido, porque é o foco, em torno do qual vai girar toda pesquisa, o problema da pesquisa. A fundamentação teórica, e a metodologia, qual é a metodologia que você vai usar pra aquele problema? Isso eu aprendi com Doutora Snider, e sei de cór ainda hoje e repito isso sempre para os meus alunos, tinha até uma disciplina muito interessante que é ‘grivens’ é acordo, discussão de… discussão de professor com administração, né? Com administração... fui visitar alguns boards of educations de lá, compreendeu? Mas fiz minha tese sobre o conselho estadual de educação, uma entidade tinha que escolher, e eu escolhi uma entidade profissional, educacional… então com o suporte organizacional, histórico, eu examinei o conselho em quinze anos as decisões tomadas, as funções atribuídas e as decisões tomadas, compreendeu? Aí voltei ‘pra’ aqui pra ensinar no mestrado, e o projeto de doutorado que você perguntou tá muito em função dessa minha formação em Administração da educação em Penn State, compreedeu? Tá muito em função disso, só ‘pra’ completar.
Débora Nascimento: No governo de João Durval o senhor acabou exercendo, pela segunda vez, o cargo de secretário.
Edivaldo Boaventura: Ótimo, eu estava… voltei então, ‘pra’ aqui para graduação e para pós-graduação, e uma coisa importante na minha vida, eu sempre fui professor da Faculdade aqui, mas eu sempre tive participação lá fora em comissão, no conselho estadual de educação, compreendeu? Eu sempre tive algum tipo de participação na comunidade, eu não fiquei somente aqui na faculdade, eu sempre tive participação na comunidade, eu tava dizendo a Nelson que hoje a grande diferença do ensino de hoje para o do tempo que eu era aluno, é que você tinha lá fora o conhecimento evoluindo, progredindo e você dentro da universidade repetindo um conhecimento antigo, hoje não, hoje não... a pesquisa faz com que você entre num relacionamento muito grande com o que tá acontecendo lá fora e com aqui, por exemplo, a educação a distância, todas essas novas tecnologias de educação você tem lá fora mas tem também aqui, com a liderança daqui, isso é… isso é muito… não existia na universidade da minha época eu me lembro que os problemas de desenvolvimento estavam aí, e a universidade estava totalmente fora dessa problemática, totalmente fora dessa problemática... bom eu voltei então minha atuação no Conselho de educação, eu presidi o conselho de educação, eu fui presidente do conselho de educação, já fiz parte de todas as comissões, e câmaras, eu tenho 20 anos de Conselho de educação você sabe disso? Não tenho vergonha de dizer isso, tenho 20 anos que fui conselheiro de educação. Assim, em pedaços. Aí João Durval é meu conterrâneo de Feira e pensou em mim, então eu fui, voltei à secretaria de educação pela segunda vez, encontrei uma secretaria bem maior com cerca de 5 mil escolas, hoje a secretaria de educação tem apenas 1.600 escolas porque o ensino de primeiro grau (faz expressão de que errou o termo), o ensino básico, fundamental da 1ª à 4ª passou para os municípios naquela época tinha escola com 1 sala, com 4 salas toda essa parte passou para os municípios, no município às vezes só tem uma escola do Estado e então qual vai ser meu pensamento quando eu volto à Secretaria de Educação, continuo pensando no Ensino superior estadual, essas faculdades isoladas, eu então juntei tudo isso, Alagoinhas, Caetité, Teixeira de Freitas, Barreiras, Paulo Afonso, Jacobina, eu então criei a UNEB, uma universidade multicampi eu tinha 2 experiências próximas, Penn State é uma multicampi com 25 campus no estado da Pensylvânia, o estado da Pensylvânia é uma comunidade com 25 Campus de Penn State, tinha também a experiência de Quebec, mas tinha também a experiência no Brasil da UNESP de São Paulo que também era tudo isso, criar mais universidade não dava já tinha 02, então vamos criar uma grande universidade juntando tudo isso, isso é… fiz o projeto, o Quebec mandou aqui o pró-reitor de planejamento para me ajudar nesse projeto, Navarro de Brito que era assessor de planejamento da reitoria também me ajudou nesse projeto, o procurador do estado também me ajudou nesse projeto o Spindora, o reitor da UNESP de São Paulo, Onório, veio para aqui ‘pra’ Bahia me ajudar nesse projeto ele tinha experiência paulista que também se dissemina por vários estados, por vários municípios, por aqueles colégios, por aqueles institutos, faculdades que Jânio Quadros criou, eles reuniram na UNESP, esse reitor me ajudou muito, ele disse assim: “Oh, professor! O senhor deixa a Universidade de Feira de Santana de lado, deixa o Sudoeste e vá cuidar da sua, não meta essas aqui não senão o senhor não cria nunca a UNEB” Compreendeu? Um conselho sábio. Então a Universidade de Feira que já tava autorizada ficou lá, a Universidade Estadual do Sudoeste, também nós deixamos lá e o que tinha de faculdades, eu então reuni e criei, eu vi que uma universidade a minha experiência de Penn State, a minha experiência com Anísio Teixeira que eu conheci a lei… que eu conheci a UDF, a Universidade do Distrito Federal, que foi uma universidade integrada que Anísio criou só demorou 4 anos, criou em 34, em 39 o governo, a ditadura Vargas fechou, e tinha uma faculdade de educação, depois a Universidade de Brasília também que foi criada com uma Faculdade de Educação como centro pedagógico da Universidade, e eu criei então aqui na Bahia a Faculdade de Educação do Estado da Bahia como Centro pedagógico da UNEB, Centro pedagógico da UNEB... essa faculdade de educação hoje que tem mestrado e doutorado, e doutorado em educação, acabei de fazer e me pediram pra escrever um paper... como é, como foi essa faculdade de educação... eu sei mas tá no pensamento de educação de Anísio Teixeira, "pra" você ter uma Universidade você tem que ter uma faculdade de educação, é lógico isso. Não é? É lógico isso... Então eu criei, essa faculdade foi criada de propósito. Juazeiro tinha uma experiência humanitária da faculdade de filosofia que horas era particular, horas era municipal, eu então incorporei no projeto da Uneb, estadualizei sem dizer nada, coloquei no projeto, botei no projeto da Uneb a Faculdade de Filosofia de Juazeiro, Jazeiro hoje é uma centro universitário poderoso porque tem a Uneb lá com a Escola de... com Agronomia, Filosofia, Comunicação, tem um pedaço da Universidade Federal do Vale do São Francisco, que a parte das engenharias ficou conosco, a parte da saúde ficou com petrolina, a parte das engenharias ficou conosco... e arqueologia ficou com Piauí, num projeto, aquele projeto do homem lá do Piauí. E aí você tem a Uneb, uma luta para conseguir a autorização da Uneb, uma luta, mandei o projeto para Brasília, mandaram para o Conselho Federal de Educação, o competente não é o Conselho Federal de Educação, o competente é o Conselho Estadual de Educação com o decreto do presidente da república. O presidente da república que tem que baixar um decreto autorizando, nada, foi pro conselho, pro conselho autorizar e o conselho não é competente, trouxe o projeto de volta, mando de novo, reformulo, mando de novo para o ministro, o gabinete do ministro, o gabinete do ministro manda para o Conselho Federal de Educação. Eu digo: Meu Deus, tô perdido... Tinha que autorizar a Uneb, a Uneb já 'tava' criada, mas precisava de autorização, ai mudaram o ministro de educação do país, felizmente que muda, felizmente que muda o ministro desse país. Veio aquele de Santa Catarina que é um nome alemão, me esqueci o nome dele, ele aí autorizou a Uneb. Olhe, pra mim foi talvez o dia de maior contentamento. No discurso ele veio a Bahia, no discurso, Nelson, eu não consegui nem falar, quando a voz do professor fica embargada, não saia nada daqui e assim eu deixei a Uneb autorizada, não faltava credenciais, foi uma atenção que eu dei ao Rio Grande, Sudoeste também, tava no papel com a ministra Ester Figueiredo Ferraz eu consegui autorizar todos os cursos. É eu tô convencido que as quatro Universidades Estaduais que a Bahia tem do ponto de vista do conhecimento é o que tem de mais importante na Bahia, tô convencido disso e todas criadas visando a formação de professores, todas elas tem programas de formação de professores, e também formar profissionais. É, a outra Universidade de Santa Cruz era FESP na época eu ajudei, era mantida pela SEPLAC, fiz um convênio com eles para ajudar a parte de estágio dos alunos e foi um ponto que eu dei atenção direta. Outra parte é esse negocio de ensino supletivo, nunca me convenceu e eu procurei dar uma atenção maior sa segunda vez que fui secretário com educação continuada, com projeto de educação continuada. E Laerte, professor dessa casa me ajudou bastante nisso, mesmo sendo de educação continuada, etc. Bom, é eu tinha ficado muito frustrado na primeira vez que eu fui secretário, eu não consegui botar no ar a TV Educativa, não consegui. Foi a época em que se discutiumuito a TV Educativa no Brasil. Eu me lembro, Nelson, que eu ia para as reuniões e falava é preciso que as televisões tenha cor local. Esse negócio da cor local aparecia em todas as reuniões, mas houve uma queda do cacau muito grande no fim do Governo Luiz Viana e era o cacau que sustentava tudo. Nós não tinhamos dinheiro 'pra' botar a televisão, havia muitos projetos, Fonte Nova... Fonte Nova levou uma ... o que levou de dinheiro do Estado não foi brincadeira. Eu aí ... Renir de Souza que foi meu sub secretário dizia: Uneb rima com Irdeb. Botamos alguns diretores mas não deu certo até que veio o Zé Carlos... Como é o nome dele? Luiz Carlos Simões e disse que no lugar onde faltava filho botava cordão que mesmo assim falava. 'Botamos' a Televisão Educativa para funcionar em 1985, a televisão foi ao ar.
Nelson Pretto: O Irdeb já existia.
Edivaldo Boaventura: O Irdeb já existia.
Nelson Pretto: Conta um pouquinho dessa experiencia aí...
Edivaldo Boaventura: O Irdeb começou a existir em... isso me interessa, interessa a todos nós. O que começou na secretaria de educação, isso começou pelo rádio. Né? Começou pelo rádio, nessa ... existia o rádio. Depois em 1900 e ... em 1900 e ... 1967, o Governo Luiz Viana com Navarro a frente criaram o Irdeb. Rádio existia, material escolar, material escolar e televisão. O projeto de televisão 'tava' lá. Houve um circuito fechado de televisão no central, no Icea, mas os pareceres dos técnicos não me aconselhava a criar porque precisava de recursos e o Estado não tinha recurso naquela época. Fiquei meio frustrado com aquilo. E me arrependo de não ter posto 'pra' frente assim mesmo, olhe são duas coisas que eu me arrependo a primeira vez que fui secretário não deixar... devia ter posto o curso de Educação Física 'pra' funcionar mesmo, mesmo contra os pareceres de todos e o Iderb, e botar também a televisão desde a época para funcinar. O Maranhão ja tinha a televisão funcionando e tudo isso, compreendeu? Bom, é o Irdeb tava assim ... depois no Governo Roberto Santos se conseguiu o recurso do Canadá, que ajudou bastante a parte de rádio, e a parte de equipamento, vinha aquele equipamento bom 'pra' fazer material escolar. É ... Roberto Santos construiu aquele prédio, porque funcionava muito, horas fucionava na biblioteca pública, horas funcionava no Icea. Eu sei que o Irdeb agora era uma autarquia, e como tal era... Não tinha muita... muita flexibilidade. O que eu fiz, sim. Eu transformei a autarquia em fundação, o que deu mais flexibilidade para o Irdeb. E aí, como eu fui ao Canadá para ver a possibilidade de recursos para o Irdeb para botar a televisão 'pra' funcionar com equipamentos canadenses. Entrou nas relações internacionais, tinha que ter negócios de saldo do comércio exterior. Ví que por aí não saía. Até que 'botamos' o Irdeb, a televisão pra funcionar em 1985, e aí, bem precariamente começou a funcionar e pronto tá ai e depois melhorou e etc. Aí foi 'pra' frente, mas perdemos a parte do material escolar, os gráficos conseguiram reclamar, dizendo que eles estavam perdendo muito porque o Estado 'tava' imprimindo muito, havia muita gráfica no Estado e o Irdeb tinha uma senhora gráfica 'pra' fazer o material escolar. Pois bem, aí o Governo que assumiu resolveu desativar essas gráficas, e a gráfica do Irdeb que era uma beleza de gráfica, foi vendida. Para mim foi uma dor para tirar as máquinas, tiveram que arrebentar, somente uma máquina do Iderb pagou tudo mais, mas evidentemente que você não pode ao governador isso, isso é segundo ou terceiro escalão. Mas aquilo me custou muito porque eu dei curso no Irdeb como secretário com Paulo Freire, Paulo Freire veio aqui à Bahia dar curso no Irdeb. E eu dei curso com Paulo Freire com a assessoria... com a consultoria do Canadá. O Canadá renovou o convênio conosco para o Iderb, etc e tal. E formamos pessoal lá, e isso foi em 1900 e... meu final na secretaria de educação, 1986-87. Outro projeto grande da secretaria de educação que eu vou contar foi a informatização da secretaria de educação. Eu peguei a secretaria de educação com informática a parte do protocólo. E com recurso do MEC, eu arranjei recurso do MEC para informatizar toda a secretaria de educação e conseguimos informatizar a Universidade de Feira, fundação cultural, tudo isso. A parte central da secretaria de educação foi uma resistência muito grande, eu quis centralizar a matricula pela informática. Sabe o que a diretora do departamento me disse? "Dr Edivaldo, você é tão complexo que a informática não pode com isso." Eu digo: " Mas por isso mesmo que eu tô querendo..." Não houve, a resistência foi terrível. A resistência foi terrível. Também já 'tava' final do governo, o governo perdeu a eleição, as coisas não 'tavam' andando, mas conseguimos informatizar toda, todas as secretarias, toda a periferia, a secretaria , a fundação cultural, as Universidades. Tudo, eu fui com o pessoal do PROADIM, Pedro Humberto é que tava a frente disso e foi lá pra feira de santana. A Universidade estava funcionando e não tinha informática, o pessoal de engenharia tava pedindo informática. Então, eu fui lá levei os técnicos, conseguimos implantar a informática em Feira de Santanae nas outras também. Mas, a secretaria mesmo, a secretaria central, colocar a matrícula de aluno na secretaria eu não consegui, uma grade frustração minha e a diretora ainda diz: "Dr. Edivaldo o senhor é tão complexo que a informática não pode pegar" Mas o que é que você pode fazer né? Ou eu mudava todo mundo, ou tive que engolir, mas muitas vezes tentamos para papel, mas não para aluno. O que eu queria era informática de gestão naquela época. O projeto também que eu dei bastante atenção, com os municípios, fiz bastante... escola de produção. Arapiraca tinha trabalhado nessa escola. Escola de produção era o seguinte: você faz a escola e junto você põe por exemplo uma casa de farinha, isso é uma idéia muito mexicana, o aluno aprende a ler tudo isso e trabalha na casa de farinha para ter um... para custear a vida dele, né? Eu fiz uma com Odebrech lá em Peçanha, dessa escola de produção, eu fiz várias no estado, várias, várias, várias dessas escolas. Tem um programa específico do MEC, dinheiro tem, dinheiro 'pra' educação já tinha no meu tempo. O que falta são bons gestores. Porque não basta o secretário não, você tem que ter outras pessoas mais, quando eu vejo você trabalhando em equipe, você tem que formar é gente pra ajudar, ocê tem que formar é gente pra ajudar um secretário, ajudar um diretor e etc. Ai conseguimos, fiz muito convênio com prefeito, mais de 300 com prefeitos, tem meus relatórios, mas a Uneb foi o que mais me conquistou. Se me perguntarem o que fiz de mais sério da vida como educador eu diria que foi a UNEB. É o que eu fiz.
Nelson Pretto: Como foi durante esse período seu na gestão pública o relacionamento com as Universidades públicas? Particularmente a UFBA. Como era a relação da UFBA com as outras Universidades, e com a Secretaria?
Edivaldo Boaventura: A UFBA, eu pedi espaço à UFBA, para colocar uns cursos aqui e não consegui. As relações eram boas, pessoais eram... pessoalmente eram muito boas, mas, ó Nelson, eu sou UFBA e você é UFBA, mas ainda nessa época havia um preconceito grande da UFBA com referência a educação superior do Estado. Havia um preconceito grande. Hoje não, hoje as coisas estão outras. Essas Universidades cresceram, né? Estão crescendo. Tem problema com formação de professores. A Universidade do Sudoeste tem apenas 30% dos professores formados e ainda faltam 70% você sabe disso? Ainda faltam 70%, compreendeu? A UFBA me ajudou sa primeira vez que eu fui secretário formando todo o pessoal do PREMEM, todo o pessoal do PREMEM foi formado pela UFBA, aqui com a Faculdade de Educação. Agora da segunda vez... da segunda vez, em pontos assim, específicos, mas não foi uma coloboração muito estreita como seria de desejar, compreendeu?
Nelson Pretto: Aproveitando a sua referência ao PREMEM, fala um pouquinho do PREMEM. Que eu acho que foi um período especial da educação, né?
Edivaldo Boaventura: É, sobretudo o PREMEM foi um projeto que eu vi que abordava três aspectos: aspectos da construção, aspectos do equipamento e o aspecto da formação de professores. Só podia ensinar na PREMEM quem tivesse licenciatura. Olha, essa época o Estado tinha apenas 20% dos professores formados, nem sei se chegava a isso. Nem sei se chegava a isso, compreendeu? O Estado até hoje ainda tem grandes carências de formação de professores, mesmo com as universidades estaduais ainda tem muitas carências, porque tem que formar e tem que atualizar e você tem ainda o resíduo dos professores, que só que tem o curso normal, né? Tem o curso normal... Que ainda tem muito desse. Ainda tem muito desse. Talvez não tenha na estrutura do estado, mas tem na estrutura da... tem nas estruturas municipais. Nas estruturas municipais ainda tem muito deles que não tem formação completa, compreendeu?
Nelson Pretto: Mas também havia muito problema de, por exemplo, construir escola, distribuir equipamento... e o equipamento ele tava virando puleiro de galinha porque não tinha energia na época, não existia...
Edivaldo Boaventura: Sim, sim, isso também é verdade. Aí quando você achava um prefeito, um bom prefeito para fazer convênio, para realizar as coisas com ele, escolas pequenas, viu? Porque escolas grandes não davam resultado. Eu tô dizendo escola grande, escola com mais de 6-8 salas 'pra' prefeito fazer, as prefeituras pequenas, não dava resultado, agora, escola pequena, sim. Eles davam 'pra' fazer e, para equipamento e distribuir papel. A secretaria do meu tempo tinha o maior convênio do estado todo, que era com a merenda escolar, compreendeu? Era uma coisa enorme, era bilhões e bilhões e bilhões, bilhões de reais. Porque como é que fazia isso, se era feito com os saldos agricolas que ficam arquivados, que ficam... é... como é que se diz... depositados, então Ministério da Educação faz um acordo com o Ministério da Agricultura, para esse material vir para a merenda escolar da escolas. Era o maior convênio que tinha era esse, com a secretaria de educação, compreendeu?
Pergunta: Como foi que nasceu a paixão pelo ensino botânico, que o senhor falou tanto de gostar de ensinar, de largar o direito, mas quando foi que o senhor percebeu mesmo essa paixão?
Edivaldo Boaventura: Depois que eu me formei. Aí que começa minha vontade de... e isso foi melhorando. Eu melhorei bastante depois depois Penn State, embora eu tivesse feito doutorado em Administração da Educação, mas tive um professor que me ensinou uma coisa muito importante pra mim e que eu prego hoje com os alunos. "Mais importante pra mim como professor é a qualidade da recionamento com o aluno, o mais importante pra mim é isso." Qualidade do relacionamento professor - aluno e alunos entre si. Isso que vocês estão fazendo aqui... isso, Nelson, 'pra' mim é o que tem de mais importante, você sabe disso? Qualidade do relaciomento. Se voce não tiver um bom relacionamento com o aluno, a antipatia do professor passa para a disciplina, passa para a disciplina. E isso sucede no curso primário, no curso secundário e também no ensino superior. Com o tempo eu fui melhorando como professor, no inicio eu devia ter sido um péssimo professor. Eu acho que os alunos sofreram muito comigo, com a mania de conteúdo que eu tinha, do Brasil, né? E não de atividades, em não criar, em não fazer com que os alunos aprendam os macetes, aprendam os skills, aprendam a fazer as coisas, compreendeu? Como vocês estão fazendo aqui isso, compreendeu? No inicio eu vinha da tradição de direito, que era uma tradição altamente conteudista, altamente conteudista, essa tradição de fazer conjunto, de transformar a sala de aula numa oficina, compreendeu? Trabalho conjunto de aluno e professor, isso eu só fui fazer depois da minha experiência americana. Só fui fazer depois da minha experiência americana. A aula ser uma dinãmica de grupo, compreendeu? Isso eu só fui fazer depois da minha experiência. Eu fui melhorando. Diz uma pessoa que entende bastante de ensino, que no final o professor vai seleionando as suas estratégias de ensino. Eu fui melhorando e escolhendo as minhas estratégias de ensino. Eu fui melhorando com o tempo. Eu melhorei muito como professor, tanto que eu tive uma alegria muito grande no final da minha… dos meus dias aqui. Eu fui nove vezes, nove vezes, paraninfo ou patrono de turma, você sabe disso? ‘Pra’ mim é a maior avaliação que eu posso ter na minha vida de professor. Eu fui nove vezes, ou paraninfo ou patrono de aluno, compreendeu? De turmas, de formatura, compreendeu? Porque eu mudei muito e melhorei o meu relacionamento com o aluno, compreendeu? A qualidade do relacionamento hoje é importante. Eu começo minhas aulas dizendo isso. Relacionamento professor e aluno. É o tempo, eu também esse ano estou fazendo 50 anos que sou professor. Eu comecei a ensinar em 1960 e entrei para UFBA em 62. Esse ano eu estou fazendo 50 anos de professor. E nisso eu fui melhorando, fui melhorando... A princípio muito amarrado ao plano de ensino, compreendeu? Os melhores professores que eu tive nos Estados Unidos não tinham plano de ensino. Você sabe disso, Nelson? Não tinham plano de ensino. Tinham o livro, uma folha, mas aquele plano de ensino que fazia: objetivos, conteúdos, aquela lenga-lenga toda... Naquela época eu peguei uma didática ainda muito formal, eu peguei certo, você escreve da esquerda para direita para apagar o quadro negro, hoje... o quadro branco hoje, né? Da esquerda para direita e de cima para baixo, assim não dá, entendeu? Tinha que ser de cima ‘pra’ baixo. Isso era observado nos concursos antigamente, compreendeu? A didática era muito formal, aliás, nós de Educação ainda temos uma certa tentativa, umas certas tentações formalísticas, quanto mais a gente diminuir isto e mais entrar em relacionamento com aluno, melhor. Essa é a minha experiência.
Pergunta: O senhor falou da sua experiência americana, falou do Canadá, falou da França. Tem outras experiências internacionais que o senhor gostaria de estar falando aqui?
Edivaldo Boaventura: Eu tive... Minha primeira experiência foi na França, os franceses são muito formais... Melhoraram muito, têm melhorado muito. Depois com os americanos, eles são informais, agora são altamente exigentes, viu? Na hora em que você põe um negócio em escrito, ihhh, no papel... Eu escrevi a fundamentação teórica da minha tese, eu escrevi nove vezes, eu escrevi nove vezes a fundamentação teórica da minha tese. Eu escrevi nove vezes, nove vezes. Eles são altamente exigentes... Não são formais, compreendeu? Alguns são formais... Dão aula com paletó e gravata, esse negócio todo, mas eles tem uma… mas têm a dinâmica de grupo. O bom professor tem a dinâmica de grupo, ele trabalha com a dinâmica de grupo. Os grupos da pós-graduação são de vinte pessoas mais ou menos. Eles trabalham muito com a dinâmica de grupo.
Nelson Pretto: E o salto para o jornal A Tarde?
Edivaldo Boaventura: Bom, eu estava… eu já estava aposentado aqui na faculdade. Estava em regime de, como eu fiz outro concurso, estava em regime de vinte horas, aí a direção do jornal precisava ter uma pessoa para substituir o Dr. Jorge Calmon, então eu fui convidado para substituir Jorge Calmon, pois precisava do perfil do professor como eu, como é que se diz, com uma certa ressonância na comunidade, e lá eu me encarreguei de vários projetos. Você me ajudou. Nelson me ajudou na parte da informática do A tarde lá na Reitoria, foi a primeira vez que A Tarde teve internet e foi com você, e me interessei pela parte... Quando eu cheguei a redação tinha que ser informatizada rápido, porque já estava passando tempo e os jornais todos já estavam informatizados, e eu ajudei nessa parte. Eu fiquei com a parte jurídica, orientando a parte jurídica do jornal, orientando a parte de segurança, orientando a parte de pessoal e orientando... tem um projeto novo, que é um projeto na Tarde muito vinculado a mim A Tarde Educação, como utilizar A Tarde, a mídia na sala de aula, mas é um ambiente totalmente diferente, a mídia é um ambiente totalmente diferente da Educação. Totalmente diferente. Você não tem aluno lá, você tem repórteres, você tem jornalistas, mas aluno você não tem. E eu gosto muito de aluno, alunos e alunas.
Nelson Pretto: E como foi o menino Edivaldo?
Edivaldo Boaventura: O menino Edivaldo foi um chato. (risos) Eu fui menino em Feira de Santana, me lembro que quando, no pré-escolar, tinha uma tradição na Bahia de plantar uma árvore no dia da primavera, dia 21 de setembro, e eu me lembro que o menino Edivaldo plantou uma árvore nesse dia, aí eu tive, depois disso quando criança, eu tive um problema de verme muito sério, e tomei um remédio e me atacou o fígado. Naquela época ser criança, tinha que tomar um remédio de verme, não sei porque, de seis em seis meses tinha que tomar um remédio de verme, tinha que tomar óleo de ricina... Vocês pegaram isso? Eu peguei... Não sei porque, aquilo era um sacrifício e foi um desses remédios que tomei que matou as lombrigas lá dentro e eu não botei pra fora e eu tive um problema sério. Não tomei o outro remédio, escondia etc e tal, e sei que com isso eu passei mal… Compreendeu? Agora eu fui um menino tímido, eu sempre fui tímido, participei dos movimentos da igreja, paróquia. Naquele tempo tinha que ir para igreja mesmo, não tinha outro lugar para ir. Tinha que ir para igreja mesmo. Era cruzado, compreendeu? Participei do... Jogava uma bolinha, mas nunca fui muito de esporte não, hoje eu pratico por causa da tensão arterial que eu tenho que praticar e o médico disse: Você tem que fechar a boca e fazer esporte, vou à academia e hoje eu não andei, mas ontem eu andei. Mas quanto ao esporte, eu não era muito de bola, era muito da leitura, era muito da leitura... lia bastante, gostava de viajar, nós tínhamos, meu pai tinha fazenda no interior e eu ia pro interior brincar com as coisas da fazenda, bezerro, cabra, bode, essas coisas e em Feira de Santana frequentando os clubes e a fofoca local. (risos)
Nelson Pretto: E o futuro? Poucos minutinhos encerrando. Quê que tá na cabeça?
Edivaldo Boaventura: Futuro...
Aluna: Há algo ainda para realizar?
Edivaldo Boaventura: Eu vou... Há bastante coisas que eu penso em fazer, eu quero fazer meu diário, minhas memórias, melhor dito, quero escrever minhas memórias. Quero escrever minhas memórias. Tenho uma participação muito nas academias, né? Com o tempo eu fui... Eu pertenço a umas dez academias aí, institutos e academias. Escrevo bastantes peças em academias, quer brasileira, quer lá fora também. Gosto muito de Portugal, vou todo ano a Portugal, participo de duas ou três instituições portuguesas e quero escrever, continuar escrevendo sobre o ensino superior na Bahia. No ano passado eu publiquei um livro chamado “A construção da Universidade Baiana: Objetivos, missões e afro descendência”. Aqui no doutorado, no mestrado e doutorado com a professora Lurdinha, trabalhamos bastante nas ações afirmativas, me esqueci de dizer isso, tive uma participação muito grande, tem seis ou sete teses que eu orientei nessa área, como também em Educação Física. Quando eu era coordenador do mestrado e doutorado, eu vi o departamento de Educação Física e não tinha um mestre aqui, não tinha um mestre aqui, Nelson. Nosso departamento de Educação Física, não tinha um mestre, não tinha um mestre. Eu ajudei na seleção, passando a mão conseguimos que esse menino, Jorge (inaudível) que faleceu, coitado, fizesse o mestrado, esse outro menino, como é o nome dele, esqueci agora, também fizesse o mestrado, quis botar Robertinho ‘pra’ fazer o mestrado, mas não me deixaram, cortaram. Vocês que são candidatos ao mestrado... Arranje uma pessoa que defendam vocês lá no mestrado, hein? Além das provas você tem uma pessoa que tenha interesse ‘pra’ botar lá dentro, entrar com um mestrado da UFBA é um bilhete, entrar para UFBA hoje, é um bilhete de loteria, hein? É um bilhete de loteria. Porque todos nós procurando a UFBA. Porque têm professores formados que tem condições, os melhores professores estão na UFBA, vocês não tenham dúvida disso. Eu, em matéria de educação, eu não digo isso, mas eu sou muito pela educação pública. O que eu recebi da UFBA, foi muita coisa. Repare bem, que eu fui ao Instituto Internacional da Educação em função da UFBA, eu fui a Penn State em função da UFBA, eu fui a Quebec em função da UFBA, tudo isso foi a UFBA que me deu. Eu também dei como professor, etc. e tal. Quer dizer, você não tem isso numa universidade particular, você não tem mesmo. Não tem, não tem isso. Quer dizer, você tem o professor, o professor está aqui, está à disposição, está liderando, está lutando por você. Os americanos me ajudaram muito nisso também, né? Na orientação, no processo de orientação, eu sou meio americano. Dar atenção ao aluno, se grudar no aluno, como você faz (se referindo a Nelson), se grudar ao aluno, porque na hora que você se associa ao professor você está aprendendo, está aprendendo os macetes com os professores, com o professor, compreendeu? Isso é sumamente importante.
Nelson Pretto: Suas memórias vão ser um blog?
Edivaldo Boaventura: (Risos) Pode ser. Eu estou melhorando também como… na informática, viu? ‘Tô’ agora com… ‘Tô’ agora com um computador novo, compreendeu? E quero escrever minhas memórias, quero, o que é mais... fazer, eu agora estou fazendo uma coletânea sobre metodologia e projeto de pesquisa, imediato né, já estou com o material junto, trabalho de alunos comigo viu, trabalhos de alunos. O trabalho de aluno é muito importante, compreendeu? Muito importante... Enfim. Só quero agradecer esta chance.
Nelson Pretto: Muito obrigado.
Edivaldo Boaventura: De estar aqui conversando com vocês, compreendeu? E dizendo a minha experiência (palmas) e das minhas enormes limitações e perplexidades. Pois é, eu acho uma boa iniciativa essa, ouvir as pessoas que trabalharam aqui pela escola, trabalharam pela universidade, eu amo loucamente a Universidade da Bahia. Eu amo a minha universidade e faço tudo por ela, faço tudo por ela. Uma das recompensas que eu tive na vida é ser professor emérito da UFBA. Que dr. Nelson contribuiu muito para isso. É uma das alegrias que eu tenho na vida é ser professor emérito da universidade. Uma das grandes alegrias que eu tenho na vida. Eu acho que em matéria de... eu tenho algumas medalhas por causa dos cargos que eu ocupei, dos prêmios, tudo isso, mas nenhuma é maior do que ser professor emérito da universidade. Para mim é a maior distinção que eu posso ter, compreendeu? Eu amo loucamente a universidade e a defendo em qualquer circunstância, em qualquer circunstância eu defendo a Universidade Federal da Bahia, assim como defendo os alunos, sob tudo nas bancas de mestrado e doutorado, compreendeu? (risos) Procuro um examinador que não venha criar problemas para os alunos, digo logo: ‘procura um que não cria problemas, hein?’ Que de problema aqui a gente já chega. São as estratégias também, né. Ok e um abraço grande.
Nelson Pretto: Rapidinho só.
Débora Nascimento: Eu sou Débora Nascimento, estudante de pedagogia, ‘tô’ no oitavo semestre, e ‘pra’ mim hoje também foi um prazer grande, assim como foi com a professora Iracy, estar explorando um pouco da carreira do professor Edivaldo, estar explorando um pouco do conhecimento que ele tem, e perceber uma coisa, que pelo menos alguma coisa importante ele trouxe ‘pra’ gente que foi o prazer de ensinar, o prazer de se dedicar aos seus alunos, se dedicar a essa Universidade.
Juliana Costa: Meu nome é Juliana Costa, sou graduanda de pedagogia, na Universidade Federal da Bahia. Está sendo muito interessante participar dessa disciplina e eu espero que ela venha a contribuir muito ‘pra’ minha formação futura.