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Transcrição Harildo Déda

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Memória da Educação na Bahia

Harildo Déda

Gravado no Teatro Martins Gonçalves em 09/04/2019.

Nelson Pretto (NP): Então Harildo, como eu estava te dizendo nessa atividade somos todos amadores, nessa dimensão da produção cinematográfica e de televisão, mas o que a gente quer mesmo, o que a gente gosta é de história, né? É de memória. Então o convite a você é muito pra que você possa falar livremente; a gente ficou futucando sua vida e vai te provocar um pouquinho mas a gente começa sempre dizendo quem é você, como nasceu, e a partir daí a gente vai conversando de Sergipe pro mundo.

Harildo Déda (HD): [risos] De Simon Days, Simão Dias para o mundo. É, esse negócio de teatro já começa lá em Simão Dias mesmo, no interior de Sergipe, com os dramas, os dramas feitos na Igreja Presbiteriana de Simão Dias, recitando poesia e até quando eu vim com 12 anos pra cá pra Salvador pra estudar no Colégio 2 de Julho; e aqui como uma atividade lateral fazendo essas coisas de, recitando poesia e fazendo… fazendo “drama”.

NP: E lá em Sergipe, né? Sua família? A formação? A alfabetização? Como é que…?

HD: A família, a família é a família que tem nome, mas não tinha dinheiro. Meu pai é, na época que eu vim pra cá, ele era sapateiro, tinha uma loja de calçado e não queria mais que filho nenhum estudasse porque o mais velho não deu… só terminou o ginásio e não queria continuar. Ele disse então “ninguém vai mais, vai estudar não! Não vai mais não”. Mas eu consegui aos 12 anos de idade, eu consegui pedi uma bolsa para o colégio já que ele não queria pagar nada, vim para o Colégio 2 de Julho com uma bolsa até fazer ginásio e, na época o clássico, o curso clássico até fazer o vestibular de letras. Que era alguma coisa que eu gostava muito e no Colégio 2 de Julho fui bem preparado com estudo de línguas, com o francês, inglês e fiz logo que saí do 2 de Julho fiz o vestibular pra Letras, passei, no meio do segundo semestre, eu ganhei uma bolsa para os Estados Unidos, com 19 anos, e fui pra estudar lá, e lá é que eu vi que havia uma possibilidade daquilo que eu fazia como amador e por gostar de fazer, que aquilo podia ser uma profissão. Eu sabia que existia profissão de ator, mas não com a coisa tão clara como foi lá no nos Estados Unidos a formação daqueles alunos para serem atores diretores e lá eu vi que era possível fazer isso. Quando eu voltei não quis nem saber mais de letras, eu cheguei a terminar anos mais tarde, mas eu voltei em 61 e em 62 criava-se aqui na Bahia, graças a uma visita do Centro Popular de Cultura da UNE, criava-se aqui na Bahia o CPC, o Centro Popular de Cultura da Bahia e eu entrei e aí eu comecei a realmente fazer teatro junto com o CPC.

NP: Você lembra de professores que te marcaram, professoras? Desde lá de trás, de lá de Sergipe. alfabetização?

HD: Ah, de Sergipe tinha. Tinha uma professora que marca todo mundo lá dentro da minha geração que era dona Otaviana. Dona Otaviana que tinha uma escola particular onde a gente aprendia as primeiras letras, a ler com dona Otaviana. E eu era o queridinho dela e pronto, aí eu...

NP: Você era o queridinho?

HD: Ah, sim

NP: Porque?

HD: Sei lá, eu acho que eu tinha facilidade de aprender as coisas. Não tinha facilidade para Matemática, isso de jeito nenhum. Eu quando eu fiz vestibular eu tava fazendo vestibular e fazendo segunda época no Colégio 2 e Julho de Matemática, o professor Benevides de Oliveira, que era uma pessoa maravilhosa, mas me botou em segunda época pra fazer no ano que eu tava saindo do colégio 2 de Julho. Matemática. Não dá, não dá. Não dava mesmo.

NP: Essa professora marcou, e depois no 2 de Julho?

HD: No 2 de julho tem dona Noêmia da Veiga Rego, vulgo Calamitê. Foi quem me ensinou francês. No Colégio 2 de Julho eu saí com sete anos de Colégio 2 de Julho eu saí falando em francês e inglês graças a Mister Gravis e, em Teatro quem tava botando na minha cabeça pra fazer teatro era Dona Maria Nazaré de Seixas que tinha um grupo de teatro aqui na cidade e se interessou por mim, pra que eu seguisse o caminho.

NP: Mas ela era professora?

HP: Era professora de Canto Orfeônico do Colégio 2 de Julho. E lá quando eu voltei dos Estados Unidos comecei a fazer o CPC e em 64 me impediram de continuar, obviamente. Era Centro Popular de Cultura da UEB (da União dos Estudantes da Bahia) e fui impedido de continuar. E volto em 66 pra não largar mais nunca, então são 53 anos já disso.

NP: Você viveu então aqui na Bahia naquele período em que a UFBA começava a florescer muito fortemente por causa do Teatro.

HD: Teatro, da música e de dança. Koellreutter...

NP: Conta então, como era isso? Como vocês viam isso e viviam?

HD: Olha eu era interno do colégio 2 de Julho. No Colégio 2 de Julho tinha internato, masculino e feminino. A coisa era tão forte, era muito rígido o Colégio 2 de Julho. Era tão forte, para mim pelo menos, que eu fugia de noite para assistir peça. Fugia do internato, e era fugir mesmo, com o sapato na mão e passar pela casa do diretor, pela garagem do diretor para poder vir assistir peça. Eu assisti a peça que inaugurou esse teatro 1958 que foi a Senhorita Júlia, que eu não esqueço nunca mais na minha vida. [tempo… emociona-se]. Ver isso aqui, a magia disso foi muito forte pra mim, pra eu poder continuar aqui, vendo essa peça, a senhorita Júlia de Strindberg, disse que se eu quero fazer isso e vou fazer isso.

NP: Como era o público? Você vinha com a sua turma?

HD: Eu vinha sozinho, sozinho... Fugia ali do Garcia, vinha para assistir a peça aqui e era useiro e vezeiro até que um dia em que o Mr Gravis me pegou, era o diretor e disse: “Ô Harildo, onde é que você estava?” Eu disse, ah, mister Gravis eu não vou mentir eu tava assistindo teatro. “Oh! quando for peça me peça” [risos].

NP: Nunca encontrou ele aqui dentro?

HD: Nunca, nunca.

NP: Nem professores, aqui?

HD: Dona Maria, Dona Maria Nazaré vinha vez em quando aqui.

NP: Mas ela, estava a favor?

HD: É. é claro.

NP: Ela queria que você ficasse…?

HD: Queria, mas não… do colégio não.

NP: E o que mais da Universidade que você lembra, que acha que era importante a gente? E que era a época em que a UFBA estava nascendo, Edgar Santos parece que era um Reitor durão.

HD: Olha, eu acho que doutor Edgar, é, descobriu a vocação da Universidade Federal da Bahia, que é nas artes. A vocação para a Bahia e para a Universidade Federal da Bahia era nas artes. Aí ele pega e funda as três escolas, ele quis incluir Belas Artes, mas Belas Artes era, já era uma escola centenária e não quis se meter nessa, nessas empreitadas, mas ele funda a Escola de Teatro e chama Martim Gonçalves, ele chama, ele funda os Seminários Livres de música que depois vira Escola de Música e chama uma das pessoas mais importantes em música naquela época não só no Brasil que era o Koellreutter, e em dança uma polonesa chamada Yanka Rudzka que realmente consegue levantar e transformar essa Universidade num polo cultural onde as coisas... Isso virou um point de cultura na Bahia. E aí logo depois junta Belas Artes e então, as artes dentro da universidade é um achado de Edgar Santos para o ensino superior na Bahia.

NP: E a sociedade baiana nessa época, não tinha um certo pé atrás?

HD: Tinha, tinha, tinha. A Bahia, a gente sempre gosta de pensar como uma coisa livre, liberta, libertária. Mas a Bahia é aparentemente, só ela na aparência é mãe, mas ela é muito madrasta. E aí, e é muito conservadora e era muito conservadora. Então isso não era bem aceito pela dita sociedade local. Então havia uma coisa contrária a isso; mas Martin sabia levar, Koellreutter também sabia levar e doutor Edgar principalmente no comando disso.

NP: Porque ele era classe dominante né?

HD: Também, também. E isso é saber como lidar com essa classe dominante. Com eles.

NP: Muito interessante! Nesse movimento todo então, você entra na universidade, vive isso, daí vai pra os Estados Unidos…

HD: Eu vou pros Estados Unidos a primeira vez, volto, largo letras, que eu já estava na universidade, largo letras. Tento fazer direito, mas era uma coisa que eu tava fazendo apenas para agradar meu pai, porque seu Déda apesar de não interferir muito na minha educação, muito pelo contrário, ele queria que o filho tivesse um diploma. Então eu tentei, vamos satisfazer seu Déda. Aí fui fazer… Mário Kertz quando eu cheguei dos Estados Unidos, Mário que era irmão de um colega meu que era Eduardo, Eduardo Kertz, me chamou pra estudar com ele para fazer o vestibular de Direito. Eu disse, bora, bora estudar juntos, você faz e eu não perco nada porque eu tô estudando com você. Aí ele disse: porque você não se matricula? É, eu disse bora, eu me matriculei pra fazer o vestibular. Eu passei e ele perdeu. Mas no ano seguinte ele fez Administração que a dele não era Direito mesmo.

NP: E nem a sua era Direito também, né?

HD: É, é, é.

NP: E como foi o curso de direito? A graduação, foi? Os professores?

HD: Eu comecei a fazer Direito, no segundo semestre, uma aula de Nelson Sampaio sobre Teoria Geral do Estado, ele falando lá e eu aqui pensando naquela sala que é um anfiteatro, meu deus o que é que eu tô fazendo aqui? Eu não quero tá aqui. Professor licença! Nunca mais voltei, nem para trancar. Fui direto para fazer teatro mesmo e pronto. É o que eu chamo os famosos seis meses de esfiha e coca-cola. Seu Déda não mandava mais a mesada, então eu tinha que viver com o que vinha do teatro, foi aí que eu comecei a fazer teatro profissionalmente que era 66, já em 66 com Arena Conta Zumbi que foi minha primeira peça profissional no barracão da graça, alí vizinho, em frente aquela lanchonete alí, tinha uma feira e nós construímos um teatro lá para apresentar a peça, a peça foi um sucesso, maior sucesso, mas a gente tem que continuar porque a gente construiu o teatro então tem que pagar as dívidas. Então teve que continuar, e continuar e continuar pagando dívida, mas foi aí que não deixamos. Nessa época tava fazendo Teatro de Arena eu, Domingos Leonelli e Luiz Lamego na produção, isso continuamos e fazendo até que não foi possível mais carregar o Teatro de Arena da Bahia então cada um seguir o seu rumo.

NP: E acabou o teatro lá?

HD: Acabou, acabou porque não tinha mais condições.

NP: E era vocês mesmo, né?

HD: Era.

NP: E esse também era um período complicado, politicamente…

HD: É, em 66 eu começo a fazer teatro profissional, em 68 recrudesce mais a censura e ficou brabo pra gente continuar, mas nós continuamos. As pessoas desistiam do teatro de texto para fazer o teatro expressão corporal porque a censura, porque a censura é o seguinte você chegava para fazer um espetáculo, você ensaiava durante dois meses, no dia da estreia você tinha o ensaio na tarde da estreia para a censura. A censura vinha e cortava; Antes já vinha de Brasília o texto cortado, ou não! E aqui o espetáculo era cortado, ou não, ou não. Então a gente no dia da estreia é que a gente sabia se podia continuar com o espetáculo no qual você gastou produção, dinheiro de produção, pagamento de ator e coisa e tal, e cenário e figurino, na corda bamba porque podia ser que a censura cortasse. Isso a gente viveu de 68 até 78 quando eu viajei novamente dos Estados Unidos para fazer o Mestrado. Quando eu voltei em 81 já tava um pouco melhor. De 72 a 78 eu já tava no Vila Velha com teatro livre da Bahia fazendo teatro com João Augusto.

NP: Conta um pouquinho mais dessa cena assim, pra nós aqui por que eu acho que é muito importante principalmente nesse momento, essa coisa de um censor chegar e diz “corta isso”. Como era a cena propriamente dito, porque é meio inacreditável né, essas coisas.

HD: É, chegava, eu peguei por exemplo um sensor que era um ex-padre, uma simpatia, muito simpático, ele ia assistir e se ele gostasse ou não do espetáculo ou ele achasse que tava... que tinha... era imoral ou politicamente incorreto, ele cortava e o espetáculo não podia ir mais a cena. O espetáculo não podia estrear. Então a gente tava assim na tarde da estreia nas mãos do padre Pinheiro ou de Maria Helena não sei mais quem quer que fosse, esperando que o espetáculo, que a gente, que o espetáculo tivesse carreira e muitas vezes muitos espetáculos foram cortados na raíz, porque não podia ser feito. Agora, malandramente a gente também tinha estratégias com a censura, no Vila Velha, por exemplo, eu e Bemvindo Siqueira nos juntávamos, na hora que tinha uma possibilidade do sensor cortar a gente chegava com uma cachacinha para dar para o sensor, nessa época ele gostava muito de tomar uma cachacinha E aí eles começaram a conversar aqui e o espetáculo correndo lá. Mas viu, passava a cena, sim mas vamos continuar agora, aí ele não via a cena, não via a cena, ou quando ele vinha ver durante a temporada, a gente ficava no Vila na porta lá de cima e … “ó hoje para fazer o espetáculo como o sensor viu”, por que se não ele cortava novamente e ainda aplicava, a gente ainda podia ser preso.

NP: Chegou caso de algum espetáculo já na temporada?

HD: Chegou sim, chegou. Comigo, comigo não. Mas eu sei Deolindo Checcucci teve espetáculos cortados, Alvinho Guimarães teve a célebre incidente no teatro Castro Alves em que ele estava fazendo um ensaio, o espetáculo foi proibido, ele estava fazendo um ensaio para a classe teatral. fechado, a polícia chegou invadiu levou muitos atores presos. E o espetáculo chamava Senhoritas, com, deixa eu ver se eu me lembro quem eram os atores, Maria Idalina, Vieira Neto e Valdemar Nobre. A cabeça ainda funciona. Direção de Álvaro Guimarães. E era a incerteza de continuar com essa profissão. Muita gente largou, muita gente que era imprescindível, era triste ver certas pessoas não aguentar mais, mas os sobreviventes aguentaram.

NP: Você adora essa expressão, sobreviventes…

HD: Sobreviventes… porque é isso que nós somos, essa semana a gente tava aqui eu e o Ylmara [Rodrigues] sendo objeto de memórias, e tava lembrando disso nós somos os sobreviventes. Graças a Deus que é assim.

NP: Você falou agora “Graças a Deus” e, tem uma dimensão religiosa também em toda a sua formação, não tem?

HD: Tem sim, eu sou de família protestante, comecei dentro da Igreja Presbiteriana de Simão Dias, sou cristão, pelo menos tento ser, mas [Luiz] Marfuz também fala no no humanismo e na militância, pra mim é o tripé que me faz ainda ser.

NP: Pra fazer uma ponte disso com a educação, quer dizer essa dimensão cristã, essa dimensão do humanismo, essa dimensão da militância faz alguma relação com a educação? Quer dizer, o que você teve ou o que você gostaria de ter.

HD: Olha é, pra mim a educação vem como vocação, e vocação é um termo bem cristão. Eu sou principalmente, primordialmente ator e diretor, e professor de teatro, e professor de teatro. Acho que eu tomo como uma missão, missão é outra palavra cristã. Eu sou principalmente e primordialmente, ator e diretor e professor de teatro. Acho que eu tomo como uma missão – missão é outra palavra cristã, mas também é de militância – o ser professor. Encontrei isso pra mim e, hoje em dia, eu não consigo dividir as duas coisas e não posso passar sem o fazer teatral e o passar experiência do teatro na minha vida para outros. Eu falei naquele dia também que eu me considero como vampiro de juventude e é verdade. Pra mim, é o que eu posso passar de experiência só sobrevive se eu também consigo tirar da juventude para mim. Então é o princípio básico de vampiro mesmo: engole o sangue, suga o sangue pra continuar vivendo.

NP: Alguma referência de professor ou professora que te mostrou isso ou foi uma descoberta sua mesmo? 

HD: Olha, diretamente assim, não. Mas eu tenho alguns mestres que… Aqui na Escola, um professor, um dos últimos italianos que vem aqui para o teatro brasileiro de comédias em São Paulo e que veio “praqui” em dois anos, quando Martins já tinha ido embora, a Escola estava em um período de decadência. Alberto da Versa veio aqui para montar duas peças e com ele eu descubro essa coisa de... num primeiro ensaio dele. Por um acaso, o texto não estava pronto pra ele distribuir com os atores para fazer a primeira leitura, então só tinha o texto dele. Nós, alunos, sentamos aí e ele aqui em cima leu a peça inteira, fazendo todos os personagens. Não é o fato dele dessa... dessa coisa histriônica de ler todos os personagens, mas é o fato de querer passar para o outro, o mais jovem, aquilo que o mais velho tinha. Isso para mim é muito importante. O mais experiente passando para o mais jovem a sua experiência. Não ensinando, mas passando a experiência. É quase dizendo: “Olhe, minha experiência é essa. Faça disso o que você quiser. Deixa até de seguir, mas veja isso.” Que é uma das coisas que eu gosto muito de citar é que eu não acredito em iconoclasta que não foi santeiro, então é preciso você aprender a fazer o santo para depois quebrar o santo, se quiser. 

NP: Isso tem sido uma marca em Harildo professor?

HD: Eu espero que sim, eu espero que sim. Porque é isso que eu quero. E aí entra um pouco na coisa da militância, que é o diálogo. O ator quando tá aqui, ou o diretor quando tá aqui, ele não está apenas se exibindo narcisisticamente, ele tá apenas dizendo: “Olha, eu vejo o mundo assim. Como é que você vê o mundo?” e é assim que a gente dialoga. O estar no mundo. Não mudamos o mundo, não queremos mudar o mundo, mas queremos que veja a nossa visão de mundo para que a gente possa dialogar e ter uma terceira via ou um terceiro tom que chamamos “Aurora”, como diz Drummond.

Fernanda Accorsi: O senhor coloca a militância como uma das partes do tripé. 

HD: Sim.

Fernanda Accorsi: E qual seria a maior relevância dessa militância enquanto ator e enquanto professor/educador? Qual seria a marca, a importância, a relevância mesmo dessa militância enquanto educador?

HD: O que será que eu te digo? Eu acho que essas três coisas estão tão amalgamadas que não faz diferença, porque você encontra no ator algumas coisas do professor e no professor você tem que usar a interpretação também para poder fazer e é um corpus que você passa adiante para receber de volta e para poder dialeticamente a gente seguir.

NP: Você viveu isso como aluno, depois como ator, depois como ator e professor aqui dentro. Você acha que, ao longo desse tempo, essas coisas estão ficando mais ou menos intensas na educação?

HD: Detesto dizer isso, mas acho que estão cada vez menos intensas. Não sei se é coisa de velho, mas a gente... a gente tinha mais responsabilidade, tanto de uma parte, como de outra. Responsabilidade como a origem da palavra Latina “responsa/reposta”. Nós temos que dar uma resposta para receber outra resposta, dialeticamente. Sinto falta, sinto falta disso. Acho que tá tudo muito superficial, a gente tá lidando com causas sérias e necessárias de forma muito irresponsável. Sem respostas.

NP: Eu queria voltar um pouquinho lá para você entrando aqui na Escola de Teatro como professor. Tem Lia Robatto, não é isso?

HD: Lia Robatto e Lia Mara.

NP: Lia Mara e reitor Roberto Santos.

HD: Isso.

NP: Fala um pouquinho desse processo desses professores.

HD: {risos} Como foi essa… {risos}... essa passagem? Eu tava na época, na época o Doutor Roberto era o reitor, eu tava me formando em 1970. Tava me formando aqui com um espetáculo chamado “A Última Gravação de Krapp” de Beckett, Samuel Beckett. E eu tava com convite para ir para o Rio (de Janeiro) para trabalhar lá. Ainda não era… ainda não havia a “Vênus Platinada”, a Rede Globo {risos}. Mas tava com convite para ir para lá, inclusive, para fazer uma peça que pra mim era muito importante, que é “Um Grito Parado no Ar” de Guarnieri, na companhia de Othon Bastos, então tava muito encantado com isso, o canto da sereia era muito forte e eu falei para as duas Lias -Lia Robatto e Lia Mara- que eram uma professora de dicção (Lia Mara) e uma professora de expressão corporal (Lia Robatto) e “A gente tem que fazer alguma coisa para você não ir, para poder ficar aqui”. “Bom, como ficar aqui?” E aí, quase que sem a minha revelia, elas foram ao Doutor Roberto, que era reitor na época, o filho de Edgard Santos, doutor Roberto Santos e disse: “Olha, Doutor Roberto Santos, estamos com um aluno aqui que tá indo embora e a gente queria ver se o senhor tinha alguma forma de contratá-lo aqui.” “Ah, vamos ver. Ele tá fazendo alguma coisa?” E disse: “Tá, ele está fazendo uma peça, a peça de formatura dele em interpretação.” “Diga a ele que eu vou lá hoje de noite pra ver.” E veio ver {risos}. No dia seguinte, ele chama as duas Lias e “Diga ao rapaz que ele está contratado como ator, e aí eu comecei a trabalhar como ator contratado da Escola de Teatro e fazendo trabalho de ator em várias peças que eram feitas aqui, eu comecei a ensinar a história do teatro, aí fiz concurso interno -que na época fazia o concurso interno- e fui contratado para ensinar primeiro história do teatro e depois me achei, que era interpretação, pra ensinar interpretação. Até que eu vou para os Estados Unidos, aí graças a outra pessoa de dança, que a Escola de Teatro se juntou com a Escola de Dança e de Música para formar a EMAC (Escola de Música e Artes Cênicas), e Dulce Aquino tava responsável pelo departamento de Teatro e com uma visão de futuro de “esse povo tem que ir fazer o mestrado fora”. Então foi primeiro Hackler, fez mestrado em interpretação nos Estados Unidos, tinha bolsa da Fulbright, depois foi eu, fui fazer o mestrado. Depois Tudella… Não, antes de Tudella foi Deolindo e Bião, e depois Tudella. Então todos os quatro foram fazer mestrado ou mestrado e direção e doutorado nos Estados Unidos com a bolsa da Fulbright, e esse povo quando volta, começa a ver uma coisa e daí começa a Escola, que tava numa coisa de decadência, com a chegada desse povo, eu, inclusive, começamos a criar a Companhia de Teatro da UFBA em 1981 e a soerguer isso aqui e conseguimos. Mas o que eu quero falar é sobre essa visão de Dulce e das duas Lias de… As duas Lias, pessoalmente comigo, porque era quem tava ali e é claro que eu pessoalmente gostei muito disso, e depois com essas bolsas para os Estados Unidos que era pra estudar. Hackler foi para universidade da Califórnia, que era uma das melhores. Eu fui para Universidade Iowa, que era uma das 20 melhores no programa de teatro. Deolindo foi para universidade do Kansas, Bião pro Michigan e Tudella para Universidade de Nova York. Todas essas universidades estavam pelo menos entre as 20 maiores, os 20 melhores programas de teatro nos Estados Unidos em Universidade. E aí foi muito bom para isso aqui, para não deixar morrer isso aqui. Tá precisando de outras coisas mais agora.

Fernanda Accorsi: O senhor falou um pouco de que, antes dessa renovação, estava num estado meio decadente. Pode especificar um pouco mais o que era e como era esse ambiente?

HD: Olha, o que houve foi que a Escola é fundada em 1956, ou pelo menos Martim chega para dar os primeiros cursos da Escola em 1956. Em 1958 é inaugurado esse teatro, primeiro como Teatro Santo Antônio, depois que vira Martim Gonçalves. Em 1961, por essa coisa que Nelson tava falando dessa Bahia Madrasta, Martim vai embora e ele não deixa substituto. Vem Luiz Carlos Maciel como diretor artístico, mas como diretora administrativa da Escola fica Nilda que não tinha nenhuma experiência, Nilda era uma excelente atriz e a Escola vai caindo porque os convênios que tinha, por exemplo com a Fundação Rockefeller, Martim sai e aí acabam esses convênios. Os professores que vinham dos Estados Unidos para ensinar aqui também, Martim sai e… Talvez o pecado de Martim foi não ter deixado um substituto ou alguém para dar continuidade a esse trabalho, era ele. Primeiro, porque ele era uma personagem assim muito centralizadora, talvez naquela época se precisasse disso. Mas enfim, a Escola vai caindo até… Quando eu entrei, em 1966, o negócio tava feio aqui. Tinham alguns professores bons, aí vem D’aversa, ele vem montar fazer duas montagens e erguer um pouco mais o corpo de alunos. Ele junta os dois espetáculos que um foi “Essa Noite Se Improvisa” de Pirandello, alunos e professores se juntam, eu tive a sorte de ta também nesse elenco como aluno. Depois ele faz o “Biedermann e os Incendiários”, que eu também tava, tive a sorte de tá... Eu tenho tido muita sorte também, viu?! É claro que também tem um pouco de coragem. Um dia desse eu tava dizendo “eu sou é corajoso para enfrentar vir ‘praqui’ para Bahia aos 12 anos de idade em 1952 não era, não era fácil ficar aqui, depois ir para os Estados Unidos com 18 anos e ficar lá durante dois anos sozinho sem dinheiro…” {risos}.

NP: Antes disso, fugir do internato pra vir assistir peça…

HD: É muita coragem no que eu quero, no que me motiva e que, lá vem uma palavra, no que é minha salvação como pessoa.

NP: Mobilizador.

HD: É, lá vem ele com a militância… {risos} É essa palavra, eu falo em salvação, mas é isso mesmo. {risos}

Fernanda Accorsi: E nesse cenário decadente, o senhor falou que houve uma parceria entre os alunos em uma peça que ajudou a…

HD: É, mas aí D’aversa vai embora, continua a cair. Vem um desastre chamado Jesus Chediak que realmente era uma coisa que nós não merecíamos aquilo. Eu tava na escola.

NP: Vem de fora?

HD: Vem de fora, vem do Rio de Janeiro.

Fernanda Accorsi: Houve alguma mobilização desses alunos também? Houve uma participação dos alunos para mobilizar, pra ajudar a reerguer?

HD: Houve, houve sim, houve sim. Houve primeiro, para tirar esse senhor daqui.

NP: Como ele chega?

HD: Ele chega convidado por um diretor da Escola que não tinha nada a ver com teatro, Antônio Carvalho de Assis Barros, que era professor de Letras, ensinava aqui, se não me engano, História do Teatro, mas ele era de Letras e não tinha nada a ver com ele, não gostava muito de teatro não. Ele chegava ali naquele negócio daquela janela que tem ali que não dá para lugar nenhum. Ali era uma porta. Ele ficava lá e olhava para baixo, os meninos sentados ali “ei, o que é que você ta fazendo aqui?” “ah, professor, eu vim estudar” “ah, meu filho, desista! Isso aqui é pra puta e pra viado”. Diretor da Escola... E aí não vestia a camisa da escola, no mínimo é isso, e aí as coisas foram caindo, caindo… Vem Jesus, Jesus sai, aí começa um período de soerguimento quando entra Possi Neto. Aí sim. Possi, recém formado pela ECA, vem para cá e quer, quer fazer carreira, mas quer também contribuir para aqui, fazendo carreira contribuindo.

NP: E ele também vem convidado?

HD: Vem convidado.

NP: Por quem?

HD: E aí já era Nilda de novo. É, Nilda. E ele fica aqui com uma série de espetáculos, porque a grande mostra da Escola de Teatro eram os espetáculos que eram feitos aqui, então Possi faz “A Casa de Bernarda Alba” -memorável-, “Álbum de Família” de Nelson Rodrigues também, “American Dreams”, um musical chamado “Marilyn Miranda” Marilyn Monroe e Carmen Miranda ele junta nas duas coisas e faz. Essa fila que a gente tá vendo agora nessa peça aí da companhia, a gente via na época para as pessoas virem assistir “Marilyn Miranda”, de dar a volta no quarteirão aqui. E conseguiu, mas aí teve aquelas coisas, né? Aceita, aceita, aceita e depois... Que é um bocado de providencialismo na história, né? Mas enfim. Depois, quando a gente volta dos mestrados e doutorados da vida, a gente funda aqui a companhia de teatro da UFBA que começa a ser o cartão postal da Escola de Teatro e a criar possibilidades. Uma das grandes vocações da Escola é essa: artista ensinando, passando experiência para artistas, e que muitas vezes a gente esquece disso, que é o artista passando experiência para artista. Quer dizer, quem é professor, quem tá ensinando, tá passando experiência para o artista menos experiente, que é o aluno, mas são artistas. Tão todos os dois na mesma profissão, tão os dois no mesmo barco, pra fazer.

NP: Harildo, nesse período, você falou desse movimento aí. Você fala de Dulce, de Lia, das Lias, né? E você falou teatro, a música, a dança tavam juntos, tavam separados… Nessa subida e descida do teatro, como é que tava o movimento na Dança, na Belas Artes, na Música?

Harildo Déda: Belas Artes sempre esteve na dela. Sempre. Descia e subia, mas era na dela. E fazia. Porque tinha, e continuava aqueles artistas que começaram como vanguarda e continuaram como tal. Depois com o tempo se tornam mais tradicionalista em relação a… mas Belas Artes sempre tava na dela. Sempre. Nós aqui é que… a escola de teatro começa a entrar numa… numa decadência. A palavra é essa mesmo. dança continua mais ou menos, mas quem tinha a hegemonia das três era música. Que tinha gente, tinha mais gente, além de ter mais gente, tinha gente que… por ter mais gente recebia mais dinheiro da Universidade, e tinha gente que sabia cuidar desse dinheiro.

NP: E tinham pessoas muito importantes...

HD: E tinham pessoas muito importantes!

NP: E você conviveu com elas? Com elas quem…

HD:Smetak, Wídmer, Bastianele, esse povo todo… Beg, Lindenbergue Cardoso...

agora, eles aproveitaram da posição deles, que era hegemônico o poder deles, e então {risos} eles gostavam era de botar adiante a escola deles, que nunca deixaram de ser cada um, uma escola. Chamava-se escola de música e artes cênicas, mas era escola de música, a Escola de Dança e a Escola de Teatro. Mas a Escola de Música com essa hegemonia, e nós nunca podíamos nunca, pelo número de professores dentro de uma congregação, desses três departamentos, música, que aí já departamentos, música, teatro e dança, a representação de música era muito maior, e sempre, qualquer coisa saiam ganhando sempre, sempre... até que teatro conseguiu fincar pé, e aí chegou a hora certa, que chegaram as pessoas certas Gleize mendes, Paulo Dourado e aí, vamos separar. Dulce, lá também querendo separar para voltar a ser as 3 escolas.

NP: Quando foi isso? Você lembra?

HD: Ai, na década de 80

NP: Mas me lembro dessa... {risos} A escola de dança funcionava no terreiro, né?

HD: É, no terreiro

NP: Primeiro aqui embaixo, a escola de teatro sempre foi aqui

HD: Sempre… foi aqui

NP: E música também sempre aqui

HD: Sempre ali

NP: E belas artes sempre ali também

HD: Não, belas artes é na rua 28 de setembro, ali em uma daquelas transversais, da Barroquinha, da baixa de sapateiro, depois é que veio para cá, que ai era geologia, depois arquitetura e finalmente voltou a ser belas artes. E isso quem tá falando é gente velha

NP: {risos} Mas arquitetura como parte de belas artes, né? lembra que no começo era parte, que foi outra briga enorme?

HD: Foi, foi outra briga daquelas.

NP: Muito bem, então aí a escola levanta um pouco mais, né? E vocês já como parte desse levantar da escola. Lembra de mais nomes? Que você falou aí Paulo Dourado, Gleice Mendes que foram contribuindo com isso e aí alunos que foram chegando.

HD: É, e aí a gente começa a ter… Coisa que você faz parte você não lembra não, então eu tava metido, quer dizer, Petrovick, eu, Sônia Rangel, Haclker, Bião, Deolindo Kekut, Jorge Gaspare, então esse grupo começou a se unir, a vestir realmente a camisa da escola, a saber que essa escola tinha um passado, que estava em um presente em vista de um futuro, que o que está faltando agora epa, epa, epa… {risos} Que o que está faltando agora, não tem gente que sabe o que era essa escola, o que foi essa escola então não pode saber como essa escola é para saber o que é que vai dar. E ‘periga’… Por que as coisas você precisa saber do seu passado para viver o seu presente pra planejar num futuro. A escola não tá sabendo como foi seu passado mais, tá esquecendo seu passado. E eu não tô querendo ser tradicionalista não, pelo amor de Deus, mas o que eu quero saber é que tem um passado que forma o meu presente em vias de um futuro. E aí essas pessoas que a gente consegue formar, estão por aí, pelo Brasil inteiro que a gente formou, tem um bocado de gente, tem um bocado de gente na televisão, desde Othon Bastos a Vladimir Brichta, a Cristiane Amorim, que tá agora nessa nova novela, tudo passou por aqui, e que levam {emocionado} essa… esse passado, esse passado... para dizer o que é que nós somos e como somos.

NP: Você acha que a UFBA, como um todo, também vive um pouco esse… Essa falta de passado, ou essa falta de memória do passado?

HD: Acho que sim, acho que sim. Acho que sim, pronto, ponto.

NP: Eu tem uma parte dois, será que o brasil também não tá vivendo?

HD: Pois é, é isso, isso tudo é um reflexo do que o país tá vivendo, e do que… Gente, nós estamos vivendo o que estamos vivendo e é pelo voto. Não é como em 64 não, que foi tomado, é pelo voto e o terrível é isso. Esse homem que tá aí, é pelo voto. E o quê que a gente faz? Como fazer? É uma nova maneira de luta. Eu fico brincando muito com o meu pessoal de teatro que tá comigo lá no sem família, somos uns 10, 12 e as pessoas começam a se decepcionar e baixar a cabeça. Gente, isso tá pior que 64, por não foi tomado, não foi ‘tchuum’, é por baixo. É como minha terra diz, é como ‘fogo de monturo’, é por baixo e é difícil por que teve mais gente que votou nele do que a gente votou. Então tem que achar uma maneira, mas também eu digo “é cedo para ceder” não tá na hora de baixar a cabeça não, tá na hora de encontrar meios de azer o que fazer, não sei o que ainda, mas não pode baixar a cabeça não.

NP: Então levantando a cabeça...

HD: {risos}

HD: … Pensando um pouco naquele tempo, você começou a falar uma horinha e aí a gente te desviou, do Vila Velha.

HD Sim.

NP: No Vila Velha, termina sendo um caminho, você chamaria de paralelo?

HD: Não, eu acho que o Vila Velha desde o momento, desde o momento em que os novos saem em 59, quando o bonde descarrilha, o bonde é “O bonde chamado desejo”, que estava em cartaz aqui e tinha um grupo que ia se formar dentro de três meses e que saiu, graças a liderança de João Augusto. Saem e formam a sociedade de teatro dos novos que vai construir e eles vão construir, estão a frente carregando tijolo, mesmo, não é figura de linguagem não, mesmo, carregando tijolo para fazer o teatro Vila Velha, em um local dado pelo então governador. Agora a gente é classe dominante, é claro, seis pessoas e quem tinha de pobre era Petro, o resto era tudo de família tradicional baiana. Mas enfim, eles fizeram isso e graças a liderança de João Augusto e a direção de João Augusto, eles assumem um papel que a escola estava deixando de ter, que é falar a língua que o momento exigia e que era um teatro popular. Popular não do povo fazendo, mas o que a gente chamava ‘para o povo’. Meio visão de classe dominante, mas pelo menos já se ia num caminho, e aí começava o teatro de cordel. que entra num… São vários, várias edições desse teatro de cordel, que inclusive vai para o Festival de Nanci num ano, no ano seguinte vai com Quincas Berro d'água baseado nesse teatro tipo cordel para a América Latina, a gente faz Venezuela, Colômbia e Panamá e na Europa, no teatro de Nanci a gente faz a França, um pouco a Itália. Começa a ser conhecido internacionalmente inclusive, o Teatro livre da Bahia sob a direção de João Augusto com esse tipo de teatro. Também que por um lado a gente faz, quando a gente veio dá do festival de Cararas a gente veio com uma dívida, com um rombo... então tinha que montar espetáculo. Ao montar... ao escolher um espetáculo, eu e Benvindo começamos a fazer a tradução de um texto chamado La Revolucion de Isaac Chocrón, que com esse nome não ia passar nunca, a gente muda para Gracias a LaVida, {risos} que é a história de um travesti que faz um espetáculo junto com o seu agente, são dois, dois personagens. João Augusto quando a gente traduziu, acabou de traduzir. Espetáculo de dois atores, pobre, sem gastar dinheiro com elenco nem nada, para poder o que viesse de lucro pra pagar as dividas, ai João Augusto, “você acha que eu vou deixar, quinze atores sem fazer nada? Bota vocês 2 para fazer os papéis principais, mas bota todo mundo trabalhando”, desde o (nome inaudível) até … {risos}. E ficou um espetáculo em que todo mundo, pelo menos a maior parte daquelas pessoas que viajaram, começaram a trabalhar fazendo ponta, fazendo canto e enriquecendo esse cabaré, que era num cabaré que passava. Que no final o travesti derruba o agente, tenho até foto disso, derruba o agente, e chama o público, quebra a quarta parede e diz: “A revolução está lá fora, vão fazer a revolução lá fora” a gente teve que claro fazer aquelas cachacinhas da censura para não, para poder passar.

NP: Quando foi isso?

HD: Olha, nós fomos quase já em 75... 76. 76.

NP: Que esse também era o tempo em que o teatro Vila Velha se constituiu o grande palco da resistência

HD: Ah sim, com certeza, com certeza. Os grupos universitários, os grupos de teatro a sede deles, onde eles queriam sempre querer saber alguma coisa era lá no Vila Velha, não era mais aqui (Escola de Teatro - UFBA), o que era aqui passou pra ser la. O point de resistência cultural, era lá.

NP: E música, teatro...

HD: Música, teatro. O teatro Vila Velha era inaugurado, com que? Com dois espetáculos, um chamado “Nós, Por Exemplo” com Caetano, Gil, Gal, Bethânia, Alcyvando Luz, Pitty… nem sei se é isso, que tavam começando, ninguém conhecia, ninguém sabia quem era Maria das Graças, ou Gracinha, que era Gal Costa. Eu não conhecia, só conhecia Caetano e Gil dos ensaios do CPC, que a gente ficava até duas horas da manhã, debaixo da estátua de Rio Branco contando conversa, batendo papo ou indo depois pro Dique onde Lia Mara tinha um bar e a gente tomando cachaça e pra lá até lá caminhando {risos}. Mas enfim, é com esses espetáculos, “Nós, Por Exemplo…” e mais dois outros, “Velha Bossa, Nova, Nova Bossa Velha" e tinha mais um que eu tô esquecido agora, “Tom Zé”, também. Então, é, o pessoal de música também era li, o point, também era ali no Vila Velha, João Augusto dirigiu vários espetáculos dessa turma em Julho de 64 e que é inaugurado com o teatro que é, “Eles não usam Black Tie”, de Guarniere com a direção de João Augusto.

NP: Porque também a escola de música não exercia esse papel, né? Ela era muito...

HD: Não, era muito elitista.

NP: … Clássica, experimental...

HD: No máximo experimental, essa coisa do... da música popular não era muito lá não. Só depois é com Begue, Aucivan, esse povo, é que começa a surgir, Tom Zé que também era aluno da escola de música. Essa retomada de uma música popular na escola de música vem da parte dos alunos.

NP: Queria voltar um pouquinho ao que você... lá atrás você falou assim, você falou assim...

HD: Tá acabando viu. {risos}

NP: Não, tá não, ainda tem coisa demais...

HD: Não, tá acabando, tá acabando a fonte aqui...

NP: A fonte? Não tá não. Quer ver? Eu ainda vou te provocar um pouquinho aí. Porque você disse assim, Edgar Santos foi muito esperto porque ele pegou o teatro, a música e a dança, como sendo a vocação.

HD: A vocação da universidade.

NP: E depois, essa vocação foi caindo… tá forte...?

HD: Foi por que, a hegemonia passa realmente para as grandes escolas: direito, medicina que elegem seus reitores, entende?

NP: Que já eram grandes

HD: Que já eram grandes antes, e elas extremamente ressentidas por causa disso, pela criação dessas três escolas.

NP: Conta um pouquinho mais disso aí que é interessante.

HD: Olha, até a esquerda foi contra Martin, teve um período que foi contra Martin, a esquerda só abriu o olho, movimento de esquerda só abriu o olho em relação da importância da escola de teatro, quando Gláuber entrar aqui, quando Gláuber assume, porque tava namorando com Helena Ignez e aí entra um pouco do folclore. E ele fica aqui e vai conhecer um pouco mais o que é que Martin quer, Martin é um cara que monta “O Bonde Chamado Desejo” monta “Calígula” mas também monta “O Alto da Compadecida”, monta peças de alunos daqui “Cachorro dorme na cinza”, “A nova Helena” de Chico Pereira da Silva, entende? Mas as pessoas só viam essa coisa do… que era importante na época ter isso também para formação do alunato e até dos professores locais.

NP: E também para se colocar na sociedade, né?

HD: Sim, claro, claro, era um estratégia dele, muito boa por sinal. Mas a mídia não engolia, tudo por diferenças de personalidade, Martin de um lado, Odorico Tavares de outro e aí briga de província

NP: A arte sofre.

HD: A arte sofre.

IC: Professor, o senhor poderia compartilhar com a turma sua experiência no cinema, e como era fazer cinema na década de 60, 70.

HD: Como é que é?

IC: Compartilhar com a turma sua experiência no cinema

HD: Minha experiência com cinema é assim, todo filme que era feito na Bahia eu tava. {risos} Minha experiência com cinema é essa, desde 1970 eu fiz um filme com Orlando Cena, que eu nem vi depois, por que o produtor teve medo, destruiu o filme junto com censura e tudo destruiu o filme, que é “A construção de morte”, de Orlando Cena, depois em 70 com “Pindorama” com um filme de Arnaldo Jabor feito na ilha de Itaparica, me chamaram e daí tudo quando era filme que a locação era na Bahia me chamavam. E ai eu tava lá sempre por que sempre adorei cinema, sempre, desde os três anos de idade em Simão Dias, sentado no colo de seu Oscar que era o celeiro da loja de meu pai, aqui no joelho dele vendo o cinema. Me lembro do primeiro filme que eu vi na vida, que é “A noiva de Frankenstein”, com Nina Fauche. E aí essa coisa, eu descobri teatro através do cinema. E sempre, é trivia de cinema, de década de 30 até 60, sei nome de artista, de tudo, tinha álbum de artista, essa coisa toda, essa frescura toda, de quem não tinha… cuja única diversão era ver cinema. Então minha experiência é essa, hoje meio dia eu tava falando sobre Central do Brasil, que é uma ceninha desse tamanhinho, mas que é deliciosa de ter feito, muito boa, e contracenar com Fernanda Montenegro e Othon Bastos do lado não é fácil, não é fácil não, é maravilhoso para um ator. E aí tudo, cinema local, “Ai que calor” com José Frazão e Deolindo, tava lá. Cinema internacional, graças a deus não veio aqui, eu me esqueço até o nome, é um com, John Phillip Law, é “O anjo da Barbarella”, Stella Stevens, ai na ilha de itaparica também, mas graças a deus não apareceu por que mas muito ruim, ruim demais, muito ruim nunca apareceu, e que nem apareça, eu acho que eu esqueci o nome para não dizer para ninguém...

NP: Para ninguém procurar. {risos}

HD: Mas é isso, nós sempre aqui televisão, minha experiência com televisão um pouco maior a partir de Gabriela, que foram sete meses de trabalho direto e intensivo, direto que foi adorável fazer e é que é muito bom mas... assim, o povo fala que essa coisa de esperar é terrível em cinema e em televisão, para mim eu acho adorável esperar, porque fica no papo aqui conversando, trocando ideia aqui com os colegas. Gabriela, pra mim, foram sete meses. E sete meses de uma escola em televisão e na Globo, e numa época que a Globo tava… basta dizer que eu chegava e dizia:

Acabou? Acabou gravação hoje? Então me dá uma passagem que eu vou hoje de noite pra Salvador!

Mas amanhã você tem gravação

Eu volto amanhã, eu só quero dormir em casa

E conseguia essas coisas, a Globo botava no melhor hotel da cidade, essas coisas todas, um privilégio da… Agora tá meio difícil. Mas é isso, a minha experiência é essa, de fazer sempre. E fazer tudo que foi feito aqui. Ultimamente a televisão tem duas série agora, “O Pequeno Gigante” direção de Anderson (esqueci o sobrenome dele agora) e um que eu faço um capítulo, “não-sei-o-quê frequência”, “Frequência Positiva” é uma outra série, tá pra sair agora. Duas delícias de fazer, muito bom. E aprendendo assim, fazendo, fazendo.

NP: E essa experiência de cinema e televisão chegou aqui na Escola? Você termina trazendo alguma coisa?

HD: É mais pessoal, é mais pessoal. É claro que a minha contribuição é pegar aluno daqui e jogar lá, pegar pelo cangote e levar pra lá, como todo pai faz, né? [risos]

NP: E todo professor, né?

HD: Pois é. Eu costumo dizer que eu não tenho filho biológico, mas tenho um bocado de filho aqui dessa escola, de aluno da escola que eu escolhi como filhos e que tenho uma ligação maior, aí tem bocado de gente nessa história.

Fernanda Accorsi: Eu queria aproveitar e perguntar sobre alguma lembrança, alguma memória, experiência que tenha tido enquanto educador, quando começou a dar aula, alguma coisa que te marcou como uma experiência pessoal mesmo, que te marcou na sua trajetória

HD: Olha, tem várias coisas. [pausa] Uma é de professor que sai de professor para ser colega no mesmo espetáculo, na mesma peça, de um aluno e aí me lembro de Ecos, eu e Wlad, Wladimir Brichta, fazendo. Outra é vendo um ator desenvolvendo uma cena que foi indicada pra ele fazer, não me esqueço nunca de Jarbas Oliver fazendo o Romeu e Julieta na janela, “que luz é aquela que brilha na janela?”. Uma coisa mágica. Assim como Marcelo Flores fazendo, Marcelo e Aleteia, fazendo junto comigo, Marcelo como diretor e Aleteia como atriz, fazendo “Gaivota”. Tem muita coisa, se eu deixar de dizer é injusto. E eu sou uma besta, me emociono muito facilmente e choro, e aí quando eu vejo um filho desse meu fazendo as coisas…

NP: Você acha que isso é um pouco característica de um bom professor?

HD: Eu não sei, eu sei que eu sou assim. E eu gosto de ser tido como um bom professor, eu gosto quando me chamam de mestre, gosto. Porque é isso que eu quero ser, que eu planejo ser, tô com quase 80, mas ainda tem muita coisa pela frente.

NP: Aposentado, né?

HD: Aposentado. Tem 10 anos de aposentadoria, mas não tem um dia que eu não venha aqui. Venho aqui todo dia, inclusive pra brigar.

NP: Tem brigado muito?

HD: Muito, muito, graças a Deus!

NP: É a militância...

HD: É.

NP: Ela não larga, né?

HD: Não larga, ela muda o foco, mas é sempre militância.

NP: Como você vê o futuro da Escola?

HD: Tá difícil, viu? Eu tava falando um dia desses, nós estamos sem um corpus, porque tá tudo espalhado lá em Ondina, tem gente que não sabe que é colega. “Ah! Você estuda Teatro? Eu também!”. Eu vi isso lá em Ondina em um daqueles PAF da vida, tá faltando aqui, aqui você não vê mais aluno. Então… Tem sete anos que esse prédio tá em construção, porra! Não é, não dá! Vai acabar a Escola, eu disse ao diretor, há umas duas semanas atrás. Eu não dou dois anos pra essa Escola acabar se vocês não acabarem esse prédio! Tava indo bem, aí de repente… não-sei-o-quê a firma faliu, não-sei-o-quê aí para. Aí tem mais três meses pra licitação não-sei-o-quê, não-sei-o-quê. E os alunos!? Os alunos nem sabem que são alunos da Escola. Tá faltando corpus.

NP: E a UFBA?

HD: Tá faltando corpus [risos]. É injusto dizer isso, mas é. Quer dizer, não queria dizer isso. Mas é. Tá difícil.

NP: Você já falou da importância da memória, esse é um projeto nosso de memória. Pra nós é uma alegria estar ouvindo essas suas histórias. Fala um pouco mais sobre memória. Você vai fazer 80 anos, tem uma história toda de vida. Nós somos ainda novinhos.

HD: Eu costumo dizer em relação a isso… como é o nome daquele alemão com quem eu brigo tanto? Hackler? Não, o outro, Alzheimer! [risos]. Graças a Deus a memória antiga ainda tá firme, ainda me lembro, ainda me lembro de textos. Eu não me lembro do texto de “Em Família”, mas me lembro do cordel.

[Recita cordel]: “Eu agora vou contar uma história verdadeira, fala de uma mulher que um dia fez asneira, pediu um filho ao Diabo, o filho nasceu de rabo, mordeu a mão da parteira, essa mulher se chama Filirmina do Orobó casada com Chico Inácio do Alto do Cocorobó, vivia tão cansada depois de tanto tempo casada nunca teve um filho só, quem sabe se seu marido (...)”. E aí continua [risos]). Cordel. João Augusto. Um dos meus mestres.

NP: E aí você fala que “Em Família”, como tá sendo a vivência daquela espetáculo magnífico?

HD: Rapaz, tá sendo de uma alegria pra mim… Há muito tempo, tem uns 30 anos que eu não tenho uma (...). Teatro aqui na Bahia tá virando evento! A gente vai pedir pauta num teatro e dizem: “Não, não podemos porque temos temos evento na sexta-feira.” O evento é uma pça, a estreia de uma peça e é só naquele dia. Daqui a uns dias vai bater na porta do outro: “Vocês querem teatro hoje? A gente faz!”. O que “Em Família” nos deu agora, pra mim pelo menos, tem uns 20/30 anos que eu não tenho isso, é uma continuidade de trabalho que a gente pode se aprimorar a cada dia… e é feliz e faz isso com uma satisfação imensa porque melhora o seu personagem. E a cada dia isso vai continuando e se tornando uma outra coisa continuando a mesma coisa. Então, pra mim, todo dia a gente teve três semanas aqui e depois sete semanas na Sala do Coro, que é assim de uma continuidade… Eu venho de uma época em que se fazia teatro de terça a domingo e com matinê aos sábados. Aqui, aqui [Escola de Teatro]. Agora tá de sexta a domingo ou quinta-feira a gente faz, espera a próxima quinta seguinte pra fazer de novo, não tem tempo de aprimorar, melhorar-se, “fazer e refazer fazem um só mister”, João Cabral.

Fernanda Accorsi: Eu queria aproveitar e pedir que deixasse uma mensagem pra quem chega novo nessa Escola, o que é que ele precisa ouvir?

HD: A primeira coisa que ele precisa ouvir, e aí não sou eu, tô roubando de Fernanda, a primeira coisa que ele precisa ouvir é:

Desista!

Ah… mas não-sei-o-quê…”

Desista.

Não desisto, vou fazer

Então venha.

É… desista. Porque talento a gente acha em qualquer lugar, vocação tá difícil. Então a gente precisa é de vocação mais do que talento.

FS: Querer fazer.

HD: Querer fazer. Chamado pra isso, aí volta o Cristianismo. Ser chamado pra fazer. Missão.

NP: Harildo, eu queria te pedir, é quase que um pedido pessoal, assim pelo meu encantamento com uma peça que eu sei que você gosta também, que é “Galileu Galilei” que eu acho que faz tanta falta de novo ser reapresentada. Fala um pouquinho da experiência. É uma pena porque essa pergunta de Fernanda era pra gente encerrar [risos]. Como foi? Como isso te mexe naquela coisa fantástica.

HD: Sabe… é uma daquelas peças que ficam, que a gente não lembra de citar como a primeira coisa. Mas que depois quando vem, a gente pensa: foi ali que eu aprendi um bocado de coisa. Politicamente. Politicamente! Isso é muito importante pra mim. Eu preciso sempre, eu, como pessoa humana, preciso sempre dessa visão política do mundo pra poder continuar a fazer, pra continuar a ter minha missão e continuar a fazer teatro. Porque é a forma que eu escolhi de fazer política. Então, Galileu pra mim é essa coisa de que você (é) safadamente encontra uma forma de continuar vivo. Muito importante. E esse humor é que leva a gente adiante.

NP: Eppur si move.

HD: Eppur si move.

NP: Obrigada, Harildo!

[PALMAS]

HD: Obrigado vocês!

Depoimento dos(as) estudantes pós entrevista

Gabriel Lima: Eu gostei muito da entrevista que a gente fez com o senhor e pensei muito em mudar pra Teatro [risos]. Foi a primeira coisa que veio assim na cabeça, como o senhor falou é sempre bom ouvir as experiências, as histórias e foi encantador. Teatro sempre foi uma das minhas paixões desde que eu era pequeno, nunca mais consegui estar envolvido com o Teatro, mas só de ouvir sua fala já despertou algo que eu sempre gostei e me interessei: a questão de atuar, de estar no palco. Então foi um conhecimento maravilhoso que o senhor passou pra gente.

Camila Souza: Primeiramente agradecer por esse momento, de compartilhar tantas experiências, tanta coisa da sua caminhada e o que eu fiquei muito emocionada foi ver o brilho nos olhos quando o senhor fala do Teatro, principalmente quando o senhor fala da Escola de Teatro aqui da UFBA. É muito encantador esse brilho nos olhos. Obrigada!

Yasmin Santos: Duas coisas me marcaram que você falou… Que você saia, fugia para assistir e eu prestei atenção nisso, nos olhos, porque quando você falou que na peça que você veio e percebeu que era aquilo que você queria fazer, eu vi os seus olhos brilharem. E eu me deparei muito com o Jornalismo, já pensei muitas vezes em desistir, mas teve um momento na entrevista que eu vi que é o que eu queria. E me marcou mais ainda quando você falou do “desista!” e se você não desiste é porque você tem vocação.

Fernanda Accorsi: Eu acho que o mais marcante pra mim, de tudo que eu pude ouvir e me sinto privilegiada foi encontrar a questão da disposição. Uma pessoa disposta a enfrentar o tempo todo o que fosse, como citou que com 12 anos veio pra Salvador sozinho por acreditar em algo. Foi pra fora mesmo contrário a tudo que o impulsionava como a família. E ainda assim, essa disposição de correr atrás. E o que eu vejo hoje são muitas pessoas que nesse primeiro “desista!”, realmente desiste, e eu acho que o que agrega, de fato, em termos de experiência, pelo menos pra mim, o que marcou, é justamente o continuar, dar continuidade.

Mesmo hoje aposentado, o senhor poderia estar pensando em não se importar mais com isso, mas mesmo assim não desiste, é aquilo que move, é aquilo que impulsiona, a continuidade.

Isamara Ellen: Eu também achei muito interessante o senhor ter falado sobre o prédio que tá sendo construído e que nunca termina de ser construído e sua forma de indignação, mesmo não precisando mais disso, mas pensando nas outras pessoas que estão precisando, que precisam de um corpus, algo pra chamar de seu, “o prédio de Teatro que eu faço parte”. E eu também achei interessante a emoção, as vezes o choro, o senhor mesmo falou que era besta e que chorava muito. E isso é ótimo porque a gente vê a humanidade, a emoção dentro dos professores, e quando o professor consegue passar isso pro aluno, isso dá mais sentido a todo aprendizado que ele tá recebendo e ouvir essas palavras de uma pessoa que fez tanto pela Escola de Teatro e ainda faz diariamente é muito importante pra gente. Obrigada pela entrevista.

Isadora Cruz: É… Então, primeiro agradecer ao professor Harildo pela oportunidade da gente estar podendo te ouvir. Muitas partes da entrevista me emocionaram muito. Principalmente quando o senhor fala de voltar ao passado pra reconstruir o presente e formar um novo futuro. É a minha filosofia de vida, eu tenho até tatuado um pássaro africano cujo significado é: voltar ao passado, pegar a sementinha que caiu pra jogar em um outro lugar e construir um novo futuro. Ao ouvir me formo também enquanto educadora no sentido de pensar que as artes devem estar mais inseridas na escola e também a pedagogia do diálogo que o senhor falou que dialogava sempre com seus discentes. É isso.

 

Revisão final da transcrição de Isamara Ellen, aluna de pedagogia e monitora de EDC61 – Memória em Vídeo da Educação na Bahia


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